Puerto Natales – Punta Arenas – Terra do Fogo
Íamos ficar um dia no camping Casa Lili, o mais barato do lugar. Mas eram os últimos dias na companhia dos amigos Marco e Ellen. Eles decidiram ir ao Parque Torres del Paine e depois pegariam o barco de Puerto Natales até Puerto Montt e seguiriam sua viagem pela Argentina, um pouco de Uruguai, Bolívia e Peru. Acabamos ficando mais uma noite, e mais uma, e mais uma. Todas regadas a muita lentilha e deliciosas receitas com Cochaiuio, uma alga do mar que parece pele de porco frita, mas que bem preparado pelo nosso Cheff italiano de plantão, Marco, fica “Muy rico”.
Nos despedimos dos amigos depois de alguns dias de preguiça e muita ventania em Puerto Natales, as barracas no camping pareciam que iam levantar vôo, apesar de toda proteção de muros e árvores. Ficamos pensando como seriam as noites a partir dali, na estrada, sem proteção contra esse vento insano. Por sorte pegamos ele a favor até Morro Chico, onde passamos nossa virada de ano regada a macarrão com molho de tomate pronto dentro de um galpão abandonado em frente ao posto de carabineiros. No dia seguinte o vento lateral não ajudava e fomos encontrar um abrigo a uns 30km antes de Villa Tehuelches para fazer nosso almoço de Primeiro de ano: Purê de batatas instantâneo com alguns tomates secos picadinhos.
Em Tehuelches compramos um doce de Nalca e seguimos até o cruzamento de ruta em Governador Filipe, onde passamos a noite acampados atrás do posto de gasolina, junto com carcaças de carros velhos e um monte de lixo metálico acumulado. Ao menos estávamos escondidos da estrada e bem protegidos do forte vento. Não havia possibilidade de usar banheiro pois aí não havia nenhum, apenas conseguimos um pouco de água.
A manhã estava emburrada, mas felizmente com menos vento que a tarde anterior, chegamos a Punta Arenas antes do meio dia. Como a barca para a Terra do Fogo seria só no outro dia as 8h da manhã, decidimos procurar um camping pra ficar. O lugar era legal e a cidade oferece alguns entretenimentos turísticos, e o dono do Camping Independência, o Eduardo, era muito simpático e amigável, apesar do camping ser esprimidinho e a cozinha um aperto quente, nos sentimos muito bem por ali. Em Punta Arenas fomos visitar o cemitério e o Museu Sara Braun. Haviam outros museus, mas estavam fechados. Outro lugar que é visita obrigatória, a Zona Franca, encontramos punhados de brasileiros para todos os lados, muitos carregando televisores LCD gigantescos debaixo do braço. Eu não teria coragem de levar um desses no avião de volta pro Brasil, tendo em conta o carinho com que eles tratam as caixas de bicicletas nos aeroportos, eu já visualizo uma televisão estraçalhada chegando pela esteira…
Assim ficamos mais uns dias em Punta Arenas, de preguiça regada a manteiga de amendoim norte americana, para só no sábado pegar a barca que sairia as 15h, teríamos mais tempo para desmontar acampamento e chegar com mais tempo pra comprar o ticket para a Terra do Fogo.
DICA: em Puerto Natales e Punta Arenas conseguimos muitas garrafas de gás para fogareiro de graça, porque os mochileiros vão ao TDP acampar e não gastam toda a garrafa, e ao voltar, no avião não podem embarcar com combustível, então deixam nos hostels e campings as latas em meia vida ou quase cheias. Assim compramos um mini-fogareiro a gás na zona franca e carregamos algumas garrafas de gaz. Ficamos com um fogareiro de emergência e pudemos poupar o nosso multi-combustível por uns dias, já que ele andava entupindo muito com os combustíveis aqui do sul.
Sábado então nos despedimos do Eduardo e do pessoal do camping/hostel independência com quem fizemos amizade. Na barca para a Terra do Fogo pagamos o equivalente a uns R$20 e não nos taxaram as bicicletas. Uma viagem confortável de umas 4h sem muitos atrativos paisagísticos. Em Porvenir chegamos no final da tarde com uma bela ventania nas costas e nos deparamos com um Italiano em bicicleta que corria contra a corrente para pegar a barca de volta a Punta Arenas. Nos espantou seu bom humor, há dias que vinha enfrentando uma estrada terrível segundo ele, com vento contra e pneus ultrafinos em sua bicicleta de corrida adaptada e com pouca bagagem em sua jornada de Ushuaia ao Alaska.” Esse é o espírito!”, pensamos, mesmo com tanta dificuldade, escolhemos estar aqui, é preciso encarar com bom humor e coragem.
Nesta noite deixamos Porvenir e acampamos logo após a saída da cidade, em um terreno sem cercas e desprotegido do vento, afinal ao cair da noite este incansável companheiro já diminuía suas forças.