Como poupamos dinheiro Antes e Durante uma Longa Viagem
Seguindo o tema do post anterior, que abordou os gastos totais que tivemos em nossa viagem de bicicleta por pouco mais de dois anos, deu pra perceber que gostamos de economia certo? Não, não é bem assim. Não é questão de gostar, apesar de que ambos não fazemos o tipo esbanjador, por isso estão aqui as dicas de Como poupamos dinheiro Antes e Durante uma Longa Viagem.
No começo de nossas viagens de bike foi uma questão de necessidade, não tínhamos outra opção, ou era ir econômico e precário, com equipamentos longe dos ideais, ou era ficar em casa resignado com a situação do nosso bolso magro, assistindo a vida passar como um expectador e não como personagem ativo dela.
Com o tempo nos acostumamos a alguns desconfortos, e o que antes era um pouco desgastante (como passar 5 dias sem um bom banho, ou jantar arroz puro vários dias consecutivos) se tornou algo tranquilo de encarar. Havía um propósito neste esforço todo, que era viajar de bicicleta até a vontade aguentar.
Quando há um propósito, o esforço não se torna um fardo, mas sim um ingrediente a mais para dar graça na vida. Nós enxergamos os tópicos que seguem como ingredientes que deram um temperinho na nossa jornada a fim de atingir nosso propósito: viver o que desejamos, colocar os sonhos no plano de realidade, tirá-los do plano imaginário quando sentirmos que é a hora.
Alguns fatores que colaboraram para poupar dinheiro ANTES da viagem
- Trabalho fixo 40h/semana por alguns anos mais os “freelas”no tempo livre: por um tempo que consideramos saudável, ou melhor, até a hora em que o sonho não se “guentava” só na nossa imaginação;
- Não tínhamos carro o filhinho de metal custa cerca de R$800,00 por mês incluindo impostos, manutenção, depreciação e combustível(nossos veículos eram algumas bicicletas simples e baratas pra rodar na cidade);
- Decoração do lar com reciclagem: caixa de feira, pallets, ausência de televisão, nada de mobiliário caro, coisas encontradas no “lixo” dos prédios (já percebeu quanta coisa boa descartam nos condomínios urbanos?);
- Colheitas urbanas: Realizávamos caminhadas dominicais com uma mochila nas costas pela vizinhança observando as árvores dos quintais. Após algum tempo já sabíamos a época e os locais onde estava ocorrendo fartura. Nenhum vizinho nunca recusou de nos dar uma cesta de abacates, caquis ou mangas, e haviam muitas árvores de amora e jaca em áreas públicas na cidade (e já íamos treinando duas coisas, o corpo para longas caminhadas, e também a arte de
ter”cara de pau”pedir, que tão útil nos seria na hora de conseguir pouso nos quintais na viagem; - Deixamos de frequentar supermercado: só comprávamos alimento na feira de orgânicos da universidade ou no “Sacolão”. Costumávamos ir de bike com os alforges para fazer uma compra ou duas por semana, assim tendo sempre alimentos frescos e mantendo a atividade física em dia. Alimento industrializado saía mais caro pra nós e só comprávamos esporadicamente;
- Alimentação sem carne e derivados animais dá uma baita economia no final do mês;
- Lazer sem custo domingo de pique-nique e leitura no parque público ao invés de ir ao cinema/festa/restaurante, viagens de bicicleta nos finais de semana/férias e até na nossa Lua de Mel.
- Academia ao ar livre de custo zero: pedalar para o trabalho, correr e caminhar na rua, tilhas no mato e uso das “academias livres” ou “marombísticos” como apelidamos os locais públicos que dispunham de barras, aparelhos de abdominal, etc.
- Viagens de bicicleta experimentais: com o equipamento fuleiro e capenga que tínhamos nos deixou mais confiantes em relação ao investimento neles. Conseguimos distinguir o que precisava ser equipamento bom, porque tinha a ver com durabilidade ou questão de sobrevivência, e o que poderia seguir improvisado ou até de qualidade inferior. Por exemplo, as bicicletas, os quadros e garfos foram bem baratos e de segunda mão, mas relação, rodas, freios, etc eram novos e de qualidade; já a barraca foi um investimento pensado, a nossa anterior
era uma porcariade má qualidade nos deixou inúmeras vezes inundados lá dentro.

Acampando de boas na placa de entrada da cidade em véspera de feriado, não deu pra camuflar muito bem, deu pra perceber!
Alguns fatores que colaboraram para poupar dinheiro DURANTE a viagem
- Dicas de como Acampar o máximo possível(dicas no link);
- Dicas de como Cozinhar o próprio alimento(dicas no link);
- Solidariedade de amigos e de muitos desconhecidos nos fornecendo pouso, quintal, varanda, etc;
- Cara de pau para pedir a senha da wifi em lugares privados como pousadas, restaurantes e postos de gasolina para podermos trabalhar à distância quando estávamos de passagem;
- Evitamos cidades grandes, assim evitamos de ceder aos templos de consumo, os supermercados, e precisar pagar por hospedagens caras;
- Sair da rota turística quando possível e buscar locais menos conhecidos e menos explorados, que tendem a ser muito mais baratos pra comprar comida ou visitar pontos de interesse.
- Usar a bicicleta como veículo e evitar ao máximo transportes pagos (ônibus e barcos apenas poucas ocasiões);
Alguns fatores que nos ajudaram a Gerar Receita DURANTE a viagem
- Continuamos trabalhando pela internet em nosso negócio próprio
- Em território brasileiro vendíamos fotografias da viagem nos locais por onde passávamos ou trocávamos estes postais por algum alimento ou serviço (tipo entrada de atrações turísticas ou pernoite)
- Vendíamos fotos através de sites de banco de imagens. O melhor é o ShutterStock e depois o IstockPhoto (Afinal, imagem parada em HD não paga nossa comida!) . Veja nosso artigo sobre o assunto: Como vender fotos na internet.
Fatores que estão nos ajudando precisar de pouco dinheiro APÓS a viagem
- DESISTIMOS DA CIDADE: Viver na área rural e interiorana nos traz um custo de vida mais baixo que na área urbana e menos tentações consumistas de fácil acesso (além de ser a realização de outro sonho e propiciar uma rotina que inclui silêncio, ar puro, muito trabalho e exercício físico, é a ginástica grátis que ainda gera comida e saúde!);
- Disciplina para continuar poupando apesar da nossa mudança de estilo de vida. Não somos mais assalariados e nosso saldo no final de cada mês é muito menor do que quando vendíamos nossas horas de vida para um patrão na “cidade grande”. Então o ganho mensal varia bastante devido ao trabalho autônomo, por isso tentamos manter uma média de gasto bem baixa, mais baixa ainda que a que tivemos durante a viagem. Este exercício de viajar de bicicleta a baixo custo proporcionou nosso aprendizado em viver simples e sentir necessidade de pouco. Atualmente conseguimos nos manter com cerca de R$500 ao mês para os dois.
- Plantando o máximo possível de comida na nossa terra e produzindo alimentos manufaturados nós mesmos movimentamos menos dinheiro para o “sistema”. Até o momento somos 100% do livres de açúcar comercial, produzimos o próprio melado de cana, já temos uma roça de mandioca (base da nossa alimentação) para os próximos meses, além de hortaliças, chás, temperos e frutas da estação na terra. Seguimos evitando supermercados, e adquirimos outros alimentos que ainda não conseguimos produzir na feira de produtores da agricultura familiar aqui do município.
- Aceitar ajuda da família, assim como na viagem de bicicleta aprendemos aceitar a ajuda dos desconhecidos, que apareciam aleatóriamente no nosso caminho com sua solidariedade, neste momento aceitamos e precisamos da ajuda de nossa família para muito! Que bom que eles são amorosos e pacientes conosco, além de muito dispostos. Estamos construindo nossa casa com mão de obra própria, da família, amigos e voluntários que nos visitam, utilizando materiais de demolição, reciclagem ou descarte. Enquanto a casa não está pronta seguimos dormindo na barraca e utilizamos a casa da família no sítio para as outras atividades cotidianas.

Galera que ajudou a cavar nosso porão, gratidão!
Após ler tudo isso, você talvez esteja pensando que pode ser muito desgastante fazer tudo isso só pra realizar um sonho.
Pra nós não se trata de realizar UM sonho, mas viver o que sonhamos. Demandou sim esforço, mas trouxe imensa diversão, aprendizado, amizades… Sem falar na mudança de nossa mentalidade, amadurecimento e satisfação em ver que dentro de nós há esta força toda que não imaginávamos ter. Muitas pessoas nos falam na cara mesmo que somos loucos por viver desse jeito (como que é aquela música mesmo?!), mas há paz dentro de nós lá na estrada e aqui no mato, e não vejo que tem receita de bolo pra felicidade, esse caminho é o da Ana e o do André, e é claro pra nós que este não é o caminho de “todo mundo”.
As dificuldades que nos metemos, vejo que elas são igual pimenta, arde quando você não está acostumado ou coloca demais, mas com o tempo e na medida certa dá um tempero!
Foi com algumas dificuldades que conseguimos viabilizar nosso sonho de viagem, e após ela, o sonho de viver no campo produzindo grande parte do nosso alimento e vivendo uma realidade que nós desejamos e que nos traz satisfação, enquanto planejamos as próximas viagens.
E você, o que está fazendo em prol de VIVER seus sonhos, está nos preparativos ou já tá com rodas na estrada?