De Urubici a Tangará
Saímos de Urubici depois de descansar uns dias, subir o Morro da Igreja, ver um parto de terneiro, esperar passar a chuva e chegar o frio. O céu estava nublado mas a previsão era de poucos milímetros. Poucos milímetros que nada. A garoa fina aos poucos foi engrossando, quando já passava das 15h combinamos de procurar logo um abrigo para passar a noite. Nem bem terminamos de falar, no final da subida encontramos uma garagem de tratores usado na época da colheita da maçã. Uma família morava ao lado, nos deram permissão de acampar ali e muita simpatia. O Claudio e a Tania trabalham com plantação de hortaliças e grãos e a família inteira ajuda na lida. Nos trataram com muito carinho, tomamos chimarrão e uns goles de quentão ao lado do fogão à lenha no chegar da noite. E pela manhã compartilhamos um café antes de sair para o pedal.
Chegamos em Urupema depois de muito subir, já no fim da tarde. O trecho que nos disseram que era quase plano foi só uma piada de mal gosto. Subir, subir e subir. Mas chegando no centro, só descidas até a simpática cidade, encontramos a solidariedade da família do Felipe, que abriu as portas de sua casa e nos ofereceu banho quente e um abrigo para passar a noite. O banho aceitamos, e até uma cuia de chimarrão, mas não acampar em Urupema não estava nos nossos planos, pois desejávamos testar se nossos agasalhos seriam suficiente para o frio que vem pela frente. O pessoal confirmou que na noite anterior havia nevado, perdemos de ver a neve por um dia, pois em Rio Rufino ainda não estávamos tão alto. Ficamos 3 dias em Urupema esperando que a previsão de neve se confirmasse. Mas só apareceu vento e chuva. Ainda bem que estávamos bem instalados no CTG, com pinhão grátis caindo das árvores todo dia, riacho, lenha e um gramado confortável. No último dia até apareceu um amigo.
Descemos de Urupema a Painel, depois de encher a pança de pinhão. Nos abrigamos no Parque de exposições, mas o local era mais frio que o interior da barraca. Primeira noite realmente gelada, primeiro dia de pedal com frio. A estrada de Painel até um pouco depois de Lages foi terrível. Acostamento deteriorado, pedra solta, mato e muito movimento, sem falar do vento constante. Foi aí que tivemos o primeiro pneu furado. Passar em rodovia perto de cidade grande é grande a chance de ter furos. Acampamos novamente no pátio de uma Igrejinha, e pela manhã um véu branco de geada cobriu a paisagem.
As próximas duas noites pegamos geada. Barraca e bikes congeladas. Novamente acampamos no pátio de uma Igrejinha um pouco antes de Vargem. E na seguinte, por falta de opção acampamos numa lavoura de aveia, há alguns quilômetros de Campos Novos. Ali passamos momentos de tensão a noite, quando o André avista 3 luzes descendo pelo meio da lavoura, provavelmente caçadores. Felizmente logo foram embora e provavelmente não nos viram. Ao amanhecer um espetáculo para nossos olhos, tudo congelado!
Pegamos o rumo de Espinilho por estradas de chão até o interior de Tangará, na comunidade de Marari. A estrada nos revelou surpresas logo no início. Bem pertinho de nós um passarinho muito bonito parecia que posava para foto. Preparo a câmera e “zum”, passa um carro e assusta o passarinho. Procura e procura o passarinho e nada. Foi quando vimos uma mamãe bugio carregando seu filhote nas costas, logo se aproximam mais dois macacos. Mais adiante novamente um exemplar do mesmo passarinho se empoleira numa árvore na beira da estrada. Pego a câmera e “vrum”, outro carro passa e assusta o passarinho que some nas árvores. Não que passasse muito carro por ali, ainda mais no domingo. Mas eles escolhiam passar por nós só quando preparávamos pra fotografar passarinhos ou para usar o mato como banheiro. Inacreditável!
Chegamos numa bifurcação e pela direção do sol escolhemos um rumo. Na primeira casa perguntaremos…nada de casas! Por alguns quilômetros pensamos ter pego o caminho errado. Nenhum morador, não passava nenhum veículo. Somente plantação de pinus, até onde os olhos alcançam. Encontramos uma placa enfiada no mato, mas que não indicava muito bem a direção.
Chegando em Marari ao fim da tarde procuramos a igreja para novamente acampar no gramado. Mas conversando com os moradores descobrimos pessoas com parentesco que nos convidaram a ficar em sua casa. A família do seu Ivanir nos acolheu na noite fria. Horas e horas de conversa ao lado do fogão à lenha, muita curiosidade nossa sobre a vida no sítio e muito assunto. Partimos pela manhã depois de conhecer a propriedade da família, com muitas bergamoteiras e laranjeiras de todo tipo, máquinas para o trabalho no campo e os animais criados ali.
A emoção de chegar na cidade natal de bicicleta eu ainda não conhecia, parece que é mentira, como se estivéssemos em outro lugar e sendo enganados pelos olhos. O André já havia experimentado esta sensação, pois ele já foi até Ourinhos de bici em 2009. Meus pais não estavam esperando que chegássemos esta semana e foi uma surpresa quando nos viram. Logo depois de chegarmos começa a chuva, e lá se vão 3 dias de chuva e frio aconchegados em casa só fazendo reservas corporais para os próximos dias de viagem!
Em breve pegamos a estrada novamente. Ainda precisamos arrumar algumas coisas que não tivemos tempo em Floripa, reorganizar objetos que se revelaram pouco úteis e roupas desnecessárias, decidir a rota e possíveis estradas para a próxima perna da viagem até o extremo oeste do estado.
Temos mais fotos desta parte da viagem, vejam clicando aqui.
Se quiser receber nossas atualizações da viagem em seu e-mail, assine nossa newsletter!