Dicas de cicloturismo para mulheres
Dicas de cicloturismo para mulheres e assuntos inevitáveis para uma viagem de bicicleta
Já há algum tempo amigas vem me perguntar sobre coisas que ninguém fala por aí, coisas que nunca aparecem nos relatos de viagem, mas que deixam as meninas com muitas dúvidas e receios, principalmente para aquelas que tem muita vontade de viajar de bicicleta, mas que ainda não tiveram a oportunidade de experimentar. Estou falando de coisas relacionadas ao corpo e comportamento feminino e viagens mais longas de bicicleta. Mas calma, essas coisas não são nenhum monstro. São só dúvidas! Então lá vão algumas dicas de cicloturismo para mulheres…
Meninos, hoje o papo é com elas, mas vocês são bem vindos aqui. Talvez com essas informações vocês possam entender um pouco mais sobre o lado feminino, respeitar e colaborar mais com uma maior participação feminina no mundo do cicloturismo, que infelizmente ainda é muito mais acessível aos homens.
Antes de viajar pela primeira vez de bicicleta eu não sabia nada de nada, nem que viagem de bicicleta até tinha nome, o tal do cicloturismo ou cicloviagem. Foi depois de ir, e voltar, da minha primeira viagem que durou 10 dias, que comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Como antes só fiz viagens curtas, certas coisas nunca foram uma grande preocupação pra mim.
Até que decidimos realizar uma viagem longa, e já estamos há mais de um ano e meio na estrada. Muitas dúvidas também surgiram pra mim antes de iniciar esta viagem e o que fiz foi pesquisar na internet.
Em sites em português o google não me disse nada sobre longas viagens de bicicleta e assuntos femininos, só encontrei o conteúdo que procurava em sites em inglês. Aqui vai um link onde vocês podem ter mais referências de assuntos femininos e viagens de bicicleta (em inglês):
http://www.tour.tk/cycle-touring-women-tips.htm
Então vamos por tópicos. O que relato aqui é um pouco do que já passei. Muitas coisas só se descobre experimentando e testando.
Como cuidar das unhas das mãos em cicloviagens
Pra mim cuidado mínimo. Há coisas mais bonitas numa mulher que viaja de bicicleta do que suas unhas pintadas. Me chame de relaxada, nem ligo, compartilho o cortador de unha com meu marido que já está de bom tamanho em termos de cuidados com as unhas!
Até porque, não quero carregar morro acima, alicate de unha, esmalte, acetona. Para mim é uma libertação não precisar de nada disso. Então vamos aos assuntos mais urgentes que unhas malfeitas e sujas de graxa?
Guarda-Roupas no Alforge
Quanto menos roupas levar, melhor. Suas pernas vão agradecer durante aquele subidão infinito! Logo no começo da viagem enviei alguns quilos de roupas que não estava usando. Em climas frios, a quantidade de roupas necessárias é maior e faz grande volume, mas evite aquelas peças que você raramente iria usar e cuja falta não ameacem sua sobrevivência. As peças de roupa que eu recomendaria são estas:
•2 camisetas manga longa finas: uma para pedalar (sintética de rápida secagem) e outra para dormir (melhor se for de algodão por ser mais confortável para o sono);
• 1 regata: pode acontecer algum dia atípico e quente no meio do caminho;
• 1 ou 2 Tops: no clima frio um só foi suficiente para mim, mas um a mais não teria sido nada mal;
• 1 bermuda de ciclismo com almofada fina (tipo Triátlon, secam mais rápido)
• 4 ou 5* calcinhas de algodão sem elástico nas bordas que contornam virilha e cochas (o algodão é mais indicado para a área íntima, apesar de reter mais umidade, ele não causa tanto desconforto como as sintéticas, todas as sintéticas que levei,descartei e troquei por algodão)
*A quantidade é alta porque em climas frios você não vai ter vontade e possibilidade de lavar roupa todos os dias, e elas também não vão secar tão rapidamente;
• 3 a 5 meias: deixando uma meia comum sempre limpa para dormir, uma ou duas comuns para pedalar, uma de lã (como as de llama e alpaca que encontramos em mercados artesanais nos Andes), uma técnica (destas com fibras especiais para não reter umidade e esquentar em áreas específicas);
• Segunda Pele de Polartec: 1 camisa e 1 calça segunda camada para isolar a temperatura;
• Luvas de lã ou Polartec e luvas de dedos para pedalar;
• 1 Casaco tipo Polar/Fleece: Com zíper no pescoço ou até a cintura para facilitar vestir com capacete;
• 1 Casaco e calça Corta vento e/ou impermeável;
• 1 Calça à paisana (eu gosto muito destas que tem zíper no joelho e viram bermuda. Me adaptei a pedalar com uma destas também)

Quem iria advinhar que a 4.300msnm e temperatura abaixo de zero seria necessário ter biquini na bagagem?! Termas de Polques, Parque Eduardo Avaroa, Bolívia
Para climas quentes:
• 2 regatas;
• 2 Tops;
• 1 camiseta manga longa (para proteção do sol);
• 1 short de secagem rápida*;
• 1 calça leve (calça-bermuda, para evitar mosquitos e queimadura do sol)
• 1 biquini*;
• 2 meias (para pedalar e evitar mosquitos)
*Short e biquini são especialmente úteis em regiões quentes, a maioria dos chuveiros que viemos encontrando na região amazônica são fora das casas das pessoas e não oferecem muita proteção da visão dos transeuntes, então me sentia melhor tomando banho de biquini e até com um short. O mesmo para quando o banho era de igarapé ou rio, normalmente na beira da estrada, onde você é vista por todos veículos que passam.
Mulher, Vestuário e a Cultura Local em uma viagem de bicicleta

Aqui na Argentina o rosto todo tapado era por conta do vento e do frio seco da Puna. Mas esta “fantasia” ia muito bem em locais onde me chateava com comentários dos homens pelas estradas do Peru.
Aqui na Argentina o rosto todo tapado era por conta do vento e do frio seco da Puna. Mas esta “fantasia” me ajudou a ter paz em locais onde me chateava com comentários dos homens. Talvez um tampão de ouvido resolvesse meu problema, mas aí eu não teria como prestar atenção ao trânsito. Hoje eu sei que esse assédio pode ser corriqueiro mas que não devemos nos acostumar com isso, embora seja muito difícil de lutar contra.
Alguns países as manifestações de machismo são maiores que em outros. Dos cinco países que pedalamos, eu me senti mais desconfortável com isso no Peru. Lá além de ser muito desgastante fisicamente, a rota que escolhemos pela serra, algumas pessoas manifestavam aversão a estrangeiros, e além disso alguns homens se sentiam no direito de soltar as infames “piadinhas” machistas, isso cansa muito. Eu já estava muito desgastada a aquela altura da viagem, sabia que não iria mudar a cultura local e não tinha energia suficiente pra rebater os comentários, então decidi pelo mais fácil e quando via um grupo de homens eu puxava a bandana pro rosto e passava sem cumprimentar ninguém.
Nas primeiras viagens eu ia com roupa que normalmente pedalava na cidade, short de lycra, top e regata, e notei duas desvantagens. A primeira é que o sol queima demais quando você passa o dia inteiro pedalando, haja protetor solar a cada duas horas, principalmente ombros e joelho queimam muito. E a segunda é a chateação do assédio masculino, gritam das janelas dos veículos, assoviam ou buzinam, isso é muito horrível de aguentar e não deveria existir.
Nas viagens posteriores decidi ir com roupa de manga longa e calça comprida pra evitar tanto protetor solar e queimaduras. Mas o desconforto com as atitudes de certos caras pelo caminho continuava me chateando muito por usar roupa justa, imagina que com o André pedalando ao meu lado com roupa justa também (bermuda de ciclismo) nenhuma mulher ou homem agia com assédio em relação a ele.
Comecei a pedalar com calça-bermuda daquelas mais largas e finalmente consegui mais paz. Mas com isso descobri uma coisa boa e uma muito ruim. A ruim e muito grave é que às mulheres não é permitido usar a roupa que quiserem, pois o assédio é uma forma de coerção, e eu ainda não tinha consciência disso na época. Mas a boa é que calças mais largas (e se possível de cor clara) por terem um tecido mais fino e ficarem mais longe da pele proporcionam maior ventilação, ainda melhores pra climas quentes e também evito a queimadura do sol e o gasto e a meleca do protetor solar. (Mas a indignação com atitudes de coerção pela roupa que escolhemos usar não está perto de ser resovida!)
Em locais onde acampar selvagem e não quiser ser vista por quem passa na estrada ou quem mora nas redondezas, tanto a barraca como as roupas de cores que se mesclam à paisagem ajudam a não ser localizado, mas ainda mais seguro seria conversar com alguém da vizinhança e averiguar se o local é seguro e permitido para acampar, quando possível. Amarelo, vermelho, azul, pink, laranjado e verde limão são cores que se vê à distância ótimas pra quando está pedalando na estrada pois os carros te vêem de longe, mas talvez não tão bom quando está montando acampamento escondido no mato.
O maldito selim!

Muitas horas sobre esse amigo-inimigo, o selim! Foto a 4700 metros de altitude, entrando na Bolívia, Sur Lipez.
Pois é, seja amiga dele, é preciso estabelecer uma longa e duradoura amizade com o seu selim. Eu tinha um GTS de espuma que adorava e foi meu amigo por dois anos, até que começou a ceder na sustentação e me dar dores no cóxis. Desfiz a amizade! Fiz as contas e na época se eu precisasse trocar de selim de dois em dois anos, em 4 anos eu poderia ter pago por um durável selim Brooks, feito em couro, como aqueles que vinham nas bicicletas de antigamente. Em pesquisas sobre cicloturismo sempre encontrei esse selim como referência para longas distâncias, com relatos de usuários há mais de 4 décadas.
Se em 4 anos pra mim já compensava financeiramente, imagine em 40 anos, já mais do que se paga. Na época ainda não havíamos mudado nossa alimentação para o vegetarianismo, mas tinha uma justificativa econômica e de certo ponto de vista ecológica, ao menos o couro é biodegradável e esse selim vai durar 40 anos, ao passo que meu antigo GTS duvido muito que foi reciclado e só foi possível usá-lo por dois anos.
Em 40 anos, haja selim pra se reciclar! Hoje em dia, a Brooks já desenvolveu um modelo de selim “vegano”, feito com tramas de algodão e uma manta de látex que segue o mesmo estilo do feito em couro.
No início o Brooks foi como uma cruz que eu tinha que carregar por gostar de pedalar e ser pão dura. O maldito não amaciou após os “primeiros” 2 mil quilômetros, como prometido. Fiz um audax 200 inteiro após já ter pedalado nele mais de 1500km e nada de dar sinais de flexibilidade. Isso me resultou alguns problemas de cistos no local onde o ísquio apoiava no selim, e a pomada que a médica receitou não curou os ferimentos.
O que resolveu pra valer foi comprar uma bermuda acolchoada, que eu nunca havia usado até então. A bendita bermuda custou quase o mesmo tanto que o que gastei no selim na época, mas resolveu meu problema. Escolhi uma cuja espuma é fina, usada para triátlon. Pensei no fator lavar-e-secar, tão importante em cicloviagens. Usei ela no primeiro ano de cicloviagem, e aos poucos a malha deteriorou, mas o forro continua ótimo, então vou costurar o forro em outra bermuda e seguir usando.
Gostei muito da combinação desta bermuda com o selim de couro, é bastante respirável, confortável e no final do dia posso lavar a bermuda com a certeza de que secará até a manhã seguinte, caso o clima não esteja úmido demais. Mas a verdade é que depois de algum tempo calos se formam na região do ísqueo e a bermuda não faz grande ajuda após um bom e velho calo consolidado. O ruim é que se ficar mais de uma semana parado sem pedalar, os calos começam a descascar e a pele original e sensível volta a incomodar nos primeiros dias dos próximos de cicloviagem pós-descanso.
Outro fator relacionado a desconfortos no selim pode não ser apenas ao modelo de selim que você escolheu. Pode ser posição, inclinação e até o tamanho do quadro e do canote. O importante é que o apoio dos “ossinhos”, os ísquios, esteja bem distribuído e que seu peso corporal seja dividido entre estes pontos de apoio: ísquios, pulsos e pés, de modo que não sobrecarregue nenhum deles em demasia.
Hoje, depois de 23.000km rodados só nesta viagem, meu selim ainda parece como novo, muito pouco amaciado apesar do intenso uso diário. Assim mesmo estou acostumada a ele, e já dispensei o uso da bermuda de ciclismo com espuma após a formação dos calos.
No entanto é preciso ter cuidado de não deixar o selim de couro tomar chuva, nem ficar muito ressecado em regiões desérticas ou de clima seco. Para isso existe uma cera específica usada para hidratar e manter o couro. Dizem as más línguas que qualquer produto destes usados para calçados já resolve, mas eu nunca testei.
Dias do Ciclo!

Terreno difícil junto com cólica menstrual bem à beira de entrar no Salar de Uyuni, usando a bike para barrar o vento. Bolívia
Evito pedalar nestes dias, sinto que meu corpo reage melhor se repousar nos primeiros dias do ciclo. Mas nem sempre isso é possível, principalmente quando estamos em um lugar onde não há local para comprar comida para os próximos dias.
As vezes é preciso seguir mesmo não estando com a mínima vontade de pedalar naquele(s) dia(s). O que ajuda é saber exatamente a data que você vai chegar seu ciclo, aí pode programar com maior precisão onde estará e se será possível reservar uns dias de pausa. Eu uso um aplicativo no celular que me avisa alguns dias antes da aproximação da menstruação, então já vamos preparando o descanso pros primeiros dias.
Algumas pessoas me recomendaram o uso de medicamentos para bloquear a menstruação, mas colocar pra dentro do meu organismo uma substância que ninguém garante que efeito terá a longo prazo, não me convence nem um pouco.

Se no seu caminho surgir um rio de degelo para atravessar a pé, melhor não estar naqueles dias, sua mãe ficaria horrorizada! Estrada para o Paso El Leon, Argentina
Resolvi buscar uma alternativa menos química para o problema. Pensando nisso e no desconforto de usar absorventes comuns e descartáveis, adquiri alguns meses antes de nossa partida, um daqueles copos menstruais, ou coletores menstruais, para testar em casa, pra ter um tempo de adaptação antes da viagem.
Li em vários sites reviews deste produto usado por mulheres em suas viagens de bicicleta. Até agora posso dizer que deveria ter comprado um destes antes. É muito prático até pra quando se está parada em casa.
Na estrada é possível usá-lo e fazer a limpeza do copo em uso com pouquíssima água(Link para produto em nossa loja aqui). É sempre bom ter à mão álcool em gel, papel higiênico ou lenço umedecido, uma toalhinha e uma garrafinha de água. Por experiência própria, prefira fazer a “manutenção” nestes dias difíceis no meio do mato.
Fazer isso em banheiros sujos ou do tipo coletivo (quando a pia não é no mesmo ambiente dos sanitários) pode ser uma tarefa desagradável. Além disso, nossos fluidos são ricos nutrientes para a terra, um adubo que as plantinhas vão curtir!
No próximo ciclo, basta ferver o copo em água conforme instruções da marca que você adquirir. Mesmo usando o coletor menstrual, pode ser ainda preciso usar um pequeno absorvente até você estar completamente adaptada a posicionar o coletor menstrual, pois nos dias mais intensos pode acontecer de vazar um pouco, mas isso nem se compara aos fraldões de antes. Ufa!
Higiene em viagem de bike, ou os dias sem Ducha

Lavando a cabeça num riacho de água de degelo no final de um dia de chuva no Parque Queulat, Carretera Austral, Chile.
Para alguns homens, parece que ficar um ou mais dias sem banho vá lá, nada extraordinário pode realmente acontecer. Mas pras mulheres isso pode ser um problema que vai além do fedor dos dias em que não foi possível tomar aquela chuveirada após o dia inteiro de pedal.
Em uma viagem em que a hospedagem de graça é prioridade, leia-se, acampando onde encontrar um local pra sua barraca no final do dia, nem sempre há torneira, que dirá chuveiro ou um riacho para se banhar.
Nas primeiras viagens improvisava um banho jogando água com a caramanhola, mas acabava gastando muita água nesse banho tosco que não limpava nada.
Depois que hospedamos um casal de franceses que finalizavam sua viagem em Floripa, é que pegamos a dica para ter “noites sempre limpos” sem gastar fortunas com lenços umedecidos. Costuramos uma espécie de luva sem dedos, com pedaços de uma camiseta velha de algodão. Neste “banho”, consegui meu récord em mínimo gasto de água, 200ml!
Claro que em dias de pouca água lavar o cabelo não dá, por isso passei a máquina e mandei os cachos embora, para o horror da minha mãe. Isso foi importante também para a saúde, pois várias noites frias iria dormir com a cabeleira molhada dentro de uma barraca sem calefação!

Não deu coragem, só um lencinho no corpo já pode ser considerado um belo banho. Reserva Nacional Cerro Castillo, Chile
Além disso não usamos creme protetor solar. Nosso bloqueador é físico mesmo e chama-se “Roupa Comprida e Boné”, mesmo nos dias em que dá vontade de pedalar de biquíni lá estamos nós cheios de roupa.
Mas a roupa comprida tem suas vantagens, uma delas é que toda meleca da estrada, poeira e fuligem que grudaria no seu suor e faria uma massa corrida com seu protetor solar, são barradas pela roupa, então o banho de luva é facilitado.
Outra vantagem é o gasto com o custo do protetor, além de que, esses cremes tem tanto químico na composição que eu não sei o que é mais cancerígeno, se é o sol do meio dia ou esse tanto de porcaria penetrando pelos poros de nossa pele.
As vezes, queria tomar um belo banho de paninho, mas estávamos acampando na companhia de outras pessoas, ou ainda estava muito frio fora da barraca para ficar com pouca roupa.
Nestes casos eu usava um pequeno balde, feito com um garrafa de água de 5L cortada. Além de economizar uma boa quantidade de água com a ajuda do baldinho, ainda poderia usá-lo para lavar roupas e não descartar o resíduo de sabão no leito d’água, e ainda tinha a possibilidade de lavar a louça e escovar os dentes dentro do conforto da nossa “casa” de nylon naqueles dias de frio medonho lá fora.

Preparando o baldinho pra tomar um banho de paninho dentro da barraca. Acampando na beira da estrada, Chile
Alerta do nojinho! Não leia o texto abaixo se você não aguenta ouvir sobre assuntos mais escatológicos sem ter nojo!
Para as partes mais, digamos assim, ultra íntimas, a combinação de pedalar o dia inteiro com falta de uma bela ducha no final do dia, pode gerar a proliferação de coisas indesejáveis, principalmente se seu organismo não está 100%, imunidade baixa, e isso geralmente vem acompanhado de vários dias de má alimentação, tão comuns em uma viagem longa de bicicleta. Eu não tenho formação nenhuma na área médica, seria legal saber de ginecologistas e nutricionistas que também pedalam o que pode ser feito a respeito.

Até no extremo do continente é possível ter uma refeição saudável, vegana e livre do glúten à moda chilena, aspargos, arroz integral e refogado de Cochayuyo no meu aniversário em Punta Arenas, Chile
Antes da viagem consultei uma ginecologista, pois sempre após um pedal mais longo sentia desconforto e não queria que isso acontecesse mais.
Descobri que poderia ser candidíase, e para tratar só o que ela fez foi me receitar uma bomba de antibióticos. Não, muito obrigada!
Mas dentro da minha ignorância, buscando uma melhor higiene e conforto com métodos naturais, minha experiência prática comprovou que algumas medidas colaboraram para diminuir a proliferação destes fungos que causam a candidíase.
Também encontrei um relato de uma ciclista que deu a volta ao mundo nos anos 90, falando dos benefícios do chá de orégano. Uma das medidas que tomei foi a diminuição do consumo de glúten, quando possível durante a viagem,e já há vários meses deixei de consumir leite e derivados completamente.
Estes dois são os principais alimentos para os fungos. Outra medida foi a higienização destas partes corporais com lenços para área íntima, e quando não foi possível encontrar este produto nos locais por onde passamos, utilizava um lenço de tecido embebido no chá de orégano para higienizar.
Conforme a dica da ciclista citada acima, comprovei neste mais de um ano de viagem que o chá de orégano ajuda muito, mas não resolve por completo. Mesmo assim foi possível aliar longas travessias em áreas remotas (que muito frequentemente estão ligados a escassez de água), sem passar perrengue com desconfortos nas áreas íntimas.
Depois do retorno ao Brasil, ainda na amazônia, devido a grande facilidade de encontrar frutas e uma variedade imensa de alimentos, paramos por completo o consumo de glúten, e vi desaparecer qualquer vestígio deste desconforto que sentia antes (sensibilidade, coceiras, etc), mesmo pedalando neste clima super quente e não podendo tomar banho todos os dias.
Uma alimentação saudável é capaz de ajudar a resolver problemas que você nunca imaginou! Há inúmeros artigos na internet falando sobre a relação entre alimentação e candidíase, informe-se e experimente, mas por desencargo de consciência, converse com seu ginecologista também.
A hora do nº 2 ou “Se escondendo atrás da moita”

“Onde está Wally?”. Roupas de cores discretas ajudam na camuflagem em locais onde não há muita moita para se esconder. Estrada entre Abancay e Pisco, Peru
Isso é algo que em uma viagem de bicicleta você vai ter que aprender a lidar! Para seu bem. Nem sempre surgirá um posto de gasolina com banheiro em seu horizonte na hora que a natureza chamar.
E hoje em dia eu acho até melhor o famoso “cagar no mato”, atrás da moita há mais paz que num acento nojento forrado de papel higiênico no melhor estilo “jogo da velha”, pode ter certeza disso!
Por isso se antecipe e deixe sempre em fácil acesso uma pá, que pode ser destas de jardinagem mesmo, papel higiênico, uma garrafinha de água e seu calçado, e se sua horinha for à noite, uma lanterna também é bom.
Tenha o cuidado de fazer o serviço a uns bons 100 metros de qualquer fonte de água, e também longe o suficiente da área onde você acampa, e depois que fizer seu buraco na terra tenha a bondade de tapar pra ninguém pisar na sua sujeirinha e não atrair insetos e outros animais.
Pode deixar o papel por lá enterrado com o defunto, que a mãe natureza se encarrega de degradar. Muitos parques nacionais na Argentina, inclusive aconselham este método de banheiro ecológico nas áreas de camping livre.
Há quem diga que a posição de defecar de cócoras, ao natural, é até mais benéfica para o corpo do que a posição sentada, mas já faz tempo que vi isso e nem lembro mais onde foi que eu li. Uma alternativa mais ecológica ainda, seria abster-se do uso de papel higiênico e carregar uma pequena garrafinha com água para sua higiene, além de a natureza degradar mais rapidamente seu presentinho, você evitará assaduras ao longo do dia de pedal.
Caso não tenha mato por perto e nem um banheiro para esconder o seu bumbum nesses momentos de tensão, li em algum site dessas cicloviajeiras estrangeiras, uma bela dica, que ainda não tive o desprazer de testar, mas sei que mais hora, menos hora, esse momento pode chegar (e não encontro o maldito link, desculpe!). Confesso que morro de nojo de precisar recorrer a esta técnica.
É o seguinte, tenha sempre alguma sacola de papel como essas de pão, guardadinha em algum lugar de sua bagagem ciclística, para os momentos onde é impossível cavar um boa cova em um local mais privado da visão alheia.
Aí arrume um cantinho escondido, prepare sua sacolinha e cague na sacolinha de papel e leve ela com você até um local onde seja possível enterrar. Certifique-se de que a sacolinha não tem rasgos anteriormente! Pode até parecer muito nojento, mas em certas situações pode ser a única saída!
Ah, acabo de lembrar mais uma alternativa em questão de sacolas para carregar seu excremento em situações extremas, melhor que a sacola de papel, agora alguns supermercados oferecem sacolas “Oxi-bio-degradáveis”, o que significa que se você enterrá-la, ela se degradará muito mais rapidamente do que as comuns sacolas de plástico.
Então na próxima compra, guarde algumas delas, vai que, né?!
Acessórios para Urinar em Pé
Confesso que adquiri um. Mas não curti. Então testei bastante tempo em casa, com o intuito de levá-lo na viagem de bike. Mas a experiência foi tão desastrosa que acabei desistindo do acessório. Pra mim um penico funciona muito melhor a um custo zero. Não tenho mínima vontade de mijar em pé, mas era uma tentativa de evitar banheiros muito sujos ou ter que tirar a roupa e acocorar em algum lugar sem moita na beira da estrada. Depois de passar pela região dos Andes eu descobri a verdadeira função da saia, a galera mija acocoradinha sem ninguém ver seu bumbum, pois a saia tem essa função por lá.
O “xixi device” que eu testei foi o Go Girl (http://www.oi-girl.com.br/) e não me adaptei. Se você tiver uma experiência com os “acessórios para urinar em pé”, por favor, escreve pra gente pra contar como conseguiu sucesso nessa empreitada?
A Wulf, leu nosso post e nos escreveu relatando de uma experiência positiva com este modelo de “gadjet urinário”, confira no link: http://www.rootsofcompassion.org/de/freelax
Polêmico Penico!

Pedalando rumo ao Paso de Sico, levando a bordo da bicicleta meu penico de garrafa pet. Cordilheira dos Andes, Argentina
Ou como eu gosto de chamar, banheiro-móvel para cicloviagens, meu banheiro indoor que cabe dentro da barraca, a grande invenção do século!
Do século passado! Uma garrafa PET cortada ao meio pode ser um ótimo penico que pode te salvar em diversas situações de aperto. Há quem não defenda o uso do penico. Mas vou listar aqui algumas vantagens e desvantagens do uso deste acessório, julgue você mesma:
Desvantagens:
– Após o uso é fundamental higienizar com água para evitar de o mau cheiro impregnar;
– Difícil encontrar uma maneira prática de carregar o penico na sua bicicleta (pendurado, dentro do alforge?!);
– Seus colegas de viagem pode confundir seu penico com outra coisa e ir pegar água pra beber com ele (Nooooo!);
– Conseguir discrição no momento do descarte do xixi, além de ser preciso uma certa dose de equilíbrio e mira na hora de esvaziar o penico fora de sua barraca;
– Desperta a inveja inrrustida nos não usuários de penicos.
Vantagens:
– No meio da noite não precisa sair da barraca e enfrentar temperaturas abaixo de zero, ventos, chuvas, insetos, (e pumas) só para esvaziar a bexiga;
– Falando em baixas temperaturas, encher uma garrafinha PET bem vedada com um recém chegado xixi quentinho pode auxiliar a esquentar os pés numa noite congelante.
– Quando acampar no quintal da casa de pessoas e der aquela vontade de xixi em plena madrugada, o banheiro ficou trancado e você não quer acordar ninguém;
– Quando acampar em campings livres e o local estiver cheio demais, e fica impossível encontrar um lugar onde ninguém te surpreenda neste momento pouco nobre;
– Quando os banheiros dos campings são nojentos, sujos e fedidos demais;
– Quando os banheiros dos campings estão todos cheios e com fila e seu xixi é urgente urgentíssimo;
– Quando o banheiro do camping é longe demais;
– Quando você acampa selvagem com mais pessoas numa área de deserto, onde não há vegetação ou pedras para se esconder;
– Não respinga xixi nos seus pés, como quando urinar de cócoras;
– Pode acompanhar como anda sua urina, e tomar medidas a respeito disso. Se estiver urinando pouca quantidade e pouca frequência, ou o odor e coloração estiver forte demais, pode ser sinal de que sua hidratação não foi aquelas maravilhas durante o dia de pedal. Então beba mais água, consuma mais frutas, faça uma sopinha de vegetais.
Há quem tenha nojo de seus próprios excrementos, mas saibam que a urina de uma pessoa saudável é estéril (http://pt.wikipedia.org/wiki/Urina_humana), e por possuir uréia, é muito benéfica para as plantas.
Só tenha o cuidado de quando descartar seu xixi em uma área natural, verde, como campings livres ou selvagens, procure não fazê-la próximo à área onde as pessoas geralmente colocam suas barracas ou próximo a fontes de água onde as pessoas se banham e utilizam aquela água para cozinhar e beber. Se for um local onde há banheiros “de verdade”, descarte discretamente por lá mesmo.
Este post ainda não está completo. Sigo em busca dos links perdidos. Se você encontrar alguma informação que possa somar ao conteúdo deste post, nos escreve? Deixa aí seu comentário e até a sua experiência. Assim nos ajudamos umas às outras a tirar os medos e tabus que envolvem uma viagem de bicicleta e os assuntos femininos!

Pose ” Diva”, coisas que a adrenalina de uma longa descida pelas montanhas faz no cérebro da pessoa!
Agora pronto! É só preparar a bike e a bagagem, e sair por aí pedalando, vai Diva!
Atualização do post:
- Para entender mais sobre o Coletor menstrual e medidas para diminuir o nosso lixo de cada ciclo, recomendo fortemente a leitura do artigo da Juliane Oliveira no 10porhora
- Uma leitora me perguntou em privado porque não falei sobre depilação.É que pra mim é tão simples que nem lembrei mesmo. Mas a resposta a pergunta dela é: porque uso apenas navalha, e só faço depilação quando o clima exige mais. No tempo que passamos em clima frio eu não senti nenhum incômodo em diminuir a frequência de depilações. Já em clima quente é mais frequente depilar axila, como não temos a possibilidade de tomar banho de chuveiro sempre, ter ao menos a axila depilada ajuda o banho de lencinhos.
Abraços ciclísticos,
Ana Vivian