Dicas para pedalar com Chuva
Pedalar com chuva não é fácil, mas vamos lá, com essas dicas você vai deixar essa prática um pouco mais agradável.
A primeira atitude que busco ter quando viajo de bicicleta e me deparo com uma chuvarada na estrada é pensar que poderia ser pior. Ter em mente “o pior cenário” sempre me conforta diante de uma situação difícil na estrada.
Pior que chuva é um tornado, pior que tempestade, seria uma inundação generalizada no acampamento. Pior que ter que botar roupa molhada já com aquele fudum de uma semana de pedal, pior que guardar todo o equipamento de camping cheio de lama, pior que passar o dia inteiro levando esguicho de água suja dos caminhão, seria estar levando minha velha rotina repetitiva naquele apartamento apertado que nem luz do sol batia.
Pronto, é pra já que muda minha atitude mental. Até porque, quando você só tem a opção de empacotar tudo e ir, só te resta ir!
É diferente quando já estamos na estrada e começa a chover, paramos no acostamento, colocamos a capa e seguimos, sem maiores dramas, e no primeiro abrigo promissor podemos parar e acampar.
Mas quando amanhece chovendo, ai preguiça! Você nem sempre tem a escolha de fechar o zíper da barraca e voltar a dormir! Muito embora esta opção felizmente é possível na maioria das vezes. Para as outras oportunidades em que choveu e não foi possível ficar no acampamento lendo e tomando chimarrão, alguns acessórios podem tornar sua jornada do dia menos miserável.
Abaixo listamos alguns equipamentos que levamos na viagem e que nos protegeram da chuva:
Capa de Chuva de plástico – O melhor custo-benefício para pedalar com chuva
Porque depois de 7 dias pedalando debaixo de chuva nenhum anoraque é mais impermeável!
Custo R$ 30 na loja de ferramentas do bairro
Chuvarada logo no primeiro dia de viagem
Luvas de borracha usada para limpeza doméstica
Bem folgadas para poder vestir por sobre as luvas de polartec, em regiões frias. Foi bem útil também quando trabalhamos com a limpeza dos banheiros na casa de ciclistas de La Paz (eu que não ia botar minha mãozinha nua num banheiro utilizado por 15 ciclistas! Eca!)
R$ 3,00 no supermercado
Polaina impermeável Alpamayo
Ajudam a manter a bota seca (bota que compramos como sendo impermeável, só que depois de alguns meses de estrada e alguns dias seguidos de chuva, até o couro arréga).
Segundo a fabricante “A Polaina Impermeável Alpamayo é uma capa de chuva para cobrir seus calçados durante o pedal em caso de chuva ou vento. Para melhorar sua eficiência deve ser utilizada junto de uma calça impermeável.”
Nós gostamos do resultado da polaina, pegamos alguns temporais bem fortes com ela e só molhou a bota porque pisamos em áreas alagadas e poças, pois por baixo ela é aberta.
É um pouco chato caminhar com ela, pois há um velcro por baixo e os elásticos das bordas geram um volume que dificulta a aderência do solado da bota no chão, e isso dificultava um pouco caso precisássemos empurrar num morro inclinado de estrada de chão com lama. Mas é isso que deixa a polaina no lugar certo durante o pedal.
Em dias de vento frio usávamos ela também. Na metade da viagem as botas estavam acabadas e compramos papetes/sandálias de trekking, então a polaina foi ainda mais útil em situação de vento.
R$88,00 na loja virtual Pedarilhos
Anoraque e Calça impermeável da Conquista
Já era um conjunto bem velhinho (deve ter uns 5 anos agora) então não me recordo o preço. O modelo já estava com tecnologia de tecido e impermeabilização um pouco defasado e modelagem pensada para trekking, não para bike, mas era o que tínhamos. Hoje já existe equipamento bem melhor, como estes que a Conquista lançou em 2015.
Uma garoa leve ou uma chuva rápida nosso anoraque velho até protege legal, mas diante de dias seguidos de chuva a água passa para o forro e demora a secar em dias úmidos.
Outro ponto que dificultou a vida em dias de chuva foi a modelagem não ser nada ideal para pedalar com chuva, o anoraque poderia ser mais longo nas costas e a calça com costuras em lugares de menor atrito com selim.

Anoraque mais usado como abrigo e corta vento do que proteção de chuva. Trekking pela Quebrada Alpamayo e Los Cedros, Peru.
Mesmo assim foi ótimo como corta vento em dias extremamente frios. Vimos muitos ciclistas viajando com a combinação ponchos de ciclismo + calça impermeável . Mesmo uma jaqueta de gore-tex não seria tão satisfatória, porque diante do exercício intenso de subir um morro, por exemplo, as fibras “respiráveis” do gore-tex não dão conta de evaporar todo o suor que o corpo gera.
Por isso eu penso que o poncho e a capa de chuva de plástico funcionam melhor, pelo fato de serem largos, o ar circula por debaixo dele e entre seu corpo, e o suor não condensa no tecido. Viajamos por vários dias com um casal da suécia que tinham jaquetas de $600 doletas feitas com a famigerada tecnologia impermeável e respirável, e eles ficavam com as roupas por baixo tão encharcados quanto nós usando anoraque nacional ou a capa de plástico.
O pior da condensação do suor é que na hora de fazer uma pausa para um lanche ou de montar acampamento, em que o corpo cessa a atividade intensa, ele esfria muito rápido estando com as roupas úmidas, e isso dá um desconforto danado. Ficamos contentes com o resultado da capa de chuva, mas ela é um pouco pesada e volumosa.
Na nossa opinião não vale a pena levar conjunto impermeável pra região de selva e nordeste brasileiro, quando a chuva é uma benção em tanto calor que faz por lá.
De resto a capa de chuva de plástico foi muito útil para pedalar com chuva porque mesmo lá pra Minas Gerais no verão, se você estiver a certa altitude e o tempo fechar e você se molhar, pode passar um pouco de frio, mais ainda durante as descidas.
Bagagem Impermeável
Usamos sacos estanques dentro dos alforges e nunca tivemos problemas com bagagem molhada, e olha que enfrentamos até uma inundação lá em San Francisco, Argentina, além de diversas travessias por rios. Fizemos um review dos sacos estanque da Sea To Summit, que foram usados sem problemas por mais de dois anos.
Mas tem uma galera que reutiliza sacos de ração com adaptação no fechamento para funcionar como saco estanque de baixo custo, utilizando fita adesiva tipo “silver-tape” e fivelas de tridente. Nós já usamos este sistema nas primeiras cicloviagens, mas notamos que o plástico do saco de ração não teria a durabilidade necessária para viagem com muitos meses de duração. Mesmo assim ele pode ir sendo substituído por novos a um custo muito baixo.
Paralamas – A melhor coisa inventada para pedalar com chuva
Não é um equipamento para vestir, obviamente, mas para instalar na bicicleta. Nós mesmos instalamos os nossos paralamas por menos de R$25 neste post sobre paralamas aqui, e as lameiras/pára-barro neste post aqui. Eles são úteis para não levantar água suja da estrada até você e na bike. Você fica limpo e a relação da bike terá vida útil prolongada (quanto mais secas e limpas, melhor!).
Para fechar este post, uma conclusão sobre como pedalar com chuva: não há no mundo equipamento capaz de tornar esse dia fácil, equipamentos só amenizam seu sentimento de inferioridade em relação à natureza e a vontade dela em fazer chover copiosamente na sua cabeça. Dois anos de viagem depois nós continuamos preferindo ficar dentro da barraca assistindo um filminho, lendo um livro e comendo móóóinto! E pra isso uma barraca garantidamente impermeável vai te fazer sentir em uma mansão de luxo (claro, comparando com o que te espera lá fora!).
Os únicos dois fatores que podem tornar nosso dia de pedal na chuva bem divertido são:
- Estar pedalando no calor amazônico e a chuva é densa o suficiente para servir como a chuveirada do dia,
ou
- Atitude mental positiva (lembre-se do pior cenário, hahaha!)
Agora uma dica de camping: se você tá com pressentimento de que vai chover, carregue mais comida e no final do dia busque um lugar com potencial para permanecer mais de uma noite, e se o teu anjo da guarda tá trabalhando direito, até descolar um teto qualquer seria jóia. Depois de passar por tudo isso, ser grato pelo seu dia único e incomum e ser feliz, porque qualquer dia o sol voltará a reinar pra tostar seu nariz e suas coxas!