Macau a Natal {Rio Grande do Norte – Brasil}
{Macau a Natal}
Trajeto: Macau> Comunidade de Trincheiras> João Câmara> Natal
Distância: ~200km
13/01/14 {Macau a Com. Trincheiras}
Bem cedo saímos de Macau com ideia de seguir pela praia. Passando para agradecer aos policiais militares que nos ajudaram com o pouso da noite, tentamos saber informações sobre o caminho para seguir mais próximo da praia possível. Não souberam nos informar. Pensamos de ir perguntando para as pessoas no caminho, ou entrar em qualquer estradinha de terra à nossa esquerda. Mas dominados um pouco pelo conforto do asfalto, não prestamos muita atenção e perdemos de vista alguma possível estradinha que nos levaria por um caminho pela areia margeando o mar, que deveria estar à nossa esquerda.
Saindo de Macau há esta bela bomba d’água movida a vento. Ficamos interessados no mecanismo, mas estava fora de funcionamento.
O dia foi agradável, com este calor de sempre e um pouco de vento. A estrada era calma por aqui, e faria uma linha reta bem direta até Natal. Estávamos um pouco cansados de empurrar na areia e não seria tão mal variar e seguir um pouco pelo asfalto. Mudanças de planos são benéficas muitas vezes, e desta vez não seria diferente.
Paramos em frente à umas casas instaladas à beira da rodovia, debaixo de uma árvore frondosa, uma das poucas sombras disponíveis a manhã inteira! Enquanto comíamos uma banana para dar ânimo para o vento contra que vínhamos enfrentando, e seguiríamos a enfrentar o resto do dia, uma mocinha de camisa listrada e saia aparece na frente da casa que estava bem em frente à esta sombra. Ela olha pra nós como quem se assusta, meio com um esbugalhar de olhos, e volta correndo pra dentro de casa. Achamos estranho, talvez ela tivesse ficado com medo de nós, ou não está acostumada a ver gente estranha na frente de casa e foi avisar sua mãe. Terminamos nosso lanchinho e partimos sem voltar a ver a menina.
Pedalamos dois quilômetros morro acima, nos despedindo do pitoresco povoado de casas de barro, enfrentando uma preguiça no fundo da alma e aquele vento contra. Chegamos a pensar em pedir pra acampar no quintal de alguém por ali, mas teríamos só mais 10km até a próxima cidade onde poderíamos comprar mantimentos que não conseguimos em Macau, tudo estava fechado neste domingo de manhã.
No momento que terminamos a subida um motociclista atravessa a pista na contramão, e pára no nosso lado do acostamento. Fiquei apreensiva, estávamos rodeados por um imenso nada, ninguém passava na estrada. Eu estava à frente e o rapaz fez sinal para que parássemos agitando as duas mãos pro alto, ainda com o capacete na cabeça, não víamos seu rosto. Eu, no nervoso da situação inesperada, segui uns metros olhando pelo espelho retrovisor para ver o que André comunicava comigo. Nunca combinamos nenhuma estratégia em caso de uma abordagem do tipo. O que fazer? Seguir, correr, parar e ver no que dá? Até que vi que o André parou e parei também, já lá na frente. “O que será que ele quer com a gente”, pensei. Nesses poucos segundos o rapaz tirou o capacete e botou o apoio da moto e veio na nossa direção. Estranho como nesses poucos segundos minha apreensão desapareceu, talvez porque ele tirou o capacete e veio de mãos vazias até nós, e também porque nós nada poderíamos fazer de qualquer maneira se o rapaz quisesse nos fazer qualquer mal, nada está sob nosso controle, nada, então melhor manter a calma pra pensar e agir de acordo com o que vier. Eu sempre fico tensa em abordagens na beira da estrada, sei que deveria confiar mais no pensamento positivo e na bondade das pessoas, na hora me recriminei por ter pensado mal do motociclista, um senhor aparentando cinquenta e poucos anos e um baita bigode. Mudei de pensamento e entreguei ao acaso, deixar de atrair pensamento ruim já é um começo. Aí lembrei da outra vez que fiquei tensa ao ter uma moto nos seguino devagarinho, ainda lá na amazônia, e o rapaz só queria saber se era a gente que tinha aparecio na Tv numa entrevista no Rio de Janeiro, nós nem nunca pisamos no RJ, então o rapaz tirou cinco reais amassados do bolso e disse “Tó, pra vocês tomá um açaí ou um suco”. Bom, lembrei daquele situação e fiquei tranquila. Anos de vida ouvido noticiário e lendo jornal causam danos quase irreversíveis na gente, acreditar na bondade das pessoas é considerado uma ingenuidade sem tamanho, e a ênfase é sempre nas coisas que se passaram mal. Golpe, roubo, e todo tipo de coisa ruim acontece com os bonzinhos no noticiário televisivo.
Enquanto concentrei em virar a chave do meu pensamento ruim para o bom, o senhor começou a conversar conosco, falou que também viajava assim como nós, de bicicleta, e sabia que tipo de dificuldade estávamos passando. Perguntou se precisávamos de alguma coisa, água, comida, ou lugar pra dormir. Agradecemos, estava tudo certo conosco e ainda era cedo para acampar. Ele então convidou para irmos até sua casa, teríamos que voltar um pouco, mas fazia questão de almoçar com nossa compania, queria contar muita coisa para nós e sua esposa tinha feito uma panelada de arroz com feijão, insistiu que não queria almoçar sozinho, já que estava atrasado e a família já teria almoçado de qualquer maneira. Nós estávamos mesmo com preguiça de seguir, e topamos uma pausa mais alongada na hora do calor mais forte, meio-dia e não aceitar já estava parecendo desfeita. Aí ele nos seguiu devagarinho de moto e perguntou se nossa bike era de cromoly, pronto! Todo e qualquer vestígio de desconfiança completamente infundada, ele fez pergunta mágica que na verdade era a resposta que buscávamos! Falar sobre bicicleta ou algum equipamento e situação muito específico que só ciclistas vão saber, é como uma palavra-senha. Ele só pode ser ciclista mesmo, e ele deve saber exatamente o que estamos passando, por isso foi nos pegando pelo estômago desde o começo com essa história de panelada de arroz e feijão, hahaha. Voltamos os dois km e onde fomos entrando? Na casa da mocinha da camiseta listrada! A tal menina assustada era filha do ciclista. E ela não havia se assustado com nós, ela havia voltado pra dentro pra chamar o pai que ficaria muito empolgado em ver gente que nem ele, só que ele recém havia saído de casa. Por isso o esbugalhar de zóio que ela deu na gente aquela hora. Que situação!
Começamos a bater papo na varanda, e o ciclista, que se chama José de Ribamar, mais conhecido no meio ciclístico como Índio, começou a puxar um punhado de fotografias e notas recortadas de jornais antigos. Quem diria que esse senhor de bigodão é essa féra da bike?! Se ele fosse contando sem mostrar foto e recotes, iríamos acreditar nele sim, mas sabe como é, muita gente aumenta o conto, tipo história de pescador, histórias grandiosas. Ele não! Apesar de ter tudo ali pra provar, ele tinha cara de casca grossa mesmo e insistia que nós também deveríamos tomar medidas pra provar o “nosso feito” preto no branco, com papel assinado, timbrado e regulamentado. A ideia dele era a seguinte: a partir de agora deveríamos começar a registrar na PRF nossa passagem com horário e assinatura de algum policial. Só assim poderíamos provar o que vínhamos pedalando, se não, quem iria acreditar em nós?! Na vizinhança deve ter sido difícil pra ele convencer as pessoas de seus feitos. Não fosse as fotos nossas que motramos a ele, até ele mal acreditava nos lugares que dissemos ter percorrido, algumas fotos nossas até mencionou que pareciam montagem. Uma vez um caminhoneiro que nos deu carona no passo Jama, na Argentina, disse “Esses ciclistas é tudo assim, pegam carona, pedem pra tirar a bicicleta da caçamba no topo do morro, numa placa, batem uma foto lá, e botam a bicicleta de volta! Pedalam nada!”. Disemos ao Riba “Bom, nós acreditamos em você, você acredita na gente se quiser( risos). Não queremos provar nenhum récord ou feito, só viajamos por prazer, por mais que isso seja estranho pra você, a gente gosta de viajar assim, para ver lugares e pessoas, e a bicicleta tem a velocidade ideal, não é pelo feito no esporte, mas pelo que nos transforma essa experiência, seu Zé!”. Ele concordou meio contrariado, como quem pensa “Quem viaja nesse sofrimento por prazer?!”, mas seguiu nos mostrando os registros da PRF de horários e datas, distâncias que percorreu. Contou de uma prova em Buenos Aires que participou, foi de São Paulo pra lá pedalando, chegou lá no mesmo dia da competição e ainda ganhou a prova. Vai dizendo… não é pra virar fã?! Enquanto a galera ia de avião, busão, hotel e firulas, o Índio ia dormindo em Posto de polícia e bombeiros, com uma lona preta e um cobertor. Não tinha nada preso na bike além desses dois ítens e uma garrafa d’água. E ainda ganha a competição. Tava ali, tudo em matéria de jornal, foto e documento. Tem uma foto aí mostrando a bagagem diminuta dele, em eras pré-moda “bikepacker” e trocentos tipos de equipamento. O negócio era barraca de lona preta, saco de dormir de cobertor “véio” e uma muda de roupa no “coro” e só! Alguma comida só para passar os trechos sem cidade ou casas, e água suficiente para um camelo no deserto. Que baita inspiração você nos deu de presente seu Zé Riba! Ele contou quantas noites se embrenhou nos canaviais pra dormir sossegado. Cidade era lugar de medo pra ele, então sempre dormia ou na polícia ou no canavial, no mato adentro.
Mas ainda mais impressionante do que o que ele contava era o jeito que ele viveu nos tempos de confederado. Deixou mulher com filhos no Rio Grande do Norte, e foi morar sozinho em São Paulo. Este cara simple, morador de um pequeno vilarejo de casas de barro na beira da rodovia, pai de tantos filhos (eu não lembro quantos, mas é mais de 5), hoje vendedor de tapioca nas horas vagas, era um grande campeão do esporte nacional, mas não ganhou reconhecimento ou estabilidade. Como nunca ouvimos falar dele antes?! Mais do que as conquistas no esporte, o que nos encantou em seu Zé Riba foi a simplicidade e o entusiasmo. Aliás não só em seu Zé Riba, mas em sua esposa Lia também. Os dois vivem com alguns dos filhos na comunidade de Trincheiras, outras filhas estudam e moram na cidade vizinha. Ali na cozinha que fica no quintal da casa produzem tapioca, beiju e outros quitutes que vendem e entregam nas redondezas. Seu Zé Riba contava as histórias enquanto raspava coco pra Dona Lia cozinhar, eu nunca vi tanto coco ralado numa tarde só, seu Zé Riba era só destreza, e dona Lia pra lá e pra cá sapateando na cozinha, virando tapioca daqui, colocando grude na forma ali, misturando tapioca pra lá. Enquanto isso dá-lhe história. Enquanto nos interamos da vida do Índio no ciclismo, aprendemos como fazer, grude, beijú e tapioca grossa e fina. Percorremos o interior da casa com medalha e troféu pra tudo quanto é prateleira. E dá-lhe jogar tapioca pra cima, dona Lia e a agilidade nas panelas!
Era tanta história que acabamos desistindo de seguir viagem naquela tarde. Até porque o casal insistia e insistia para que ficássemos mais um dia com eles. Para não contradizer os anfitriões e porque desfrutamos muito da companhia alegre desta família, resolvemos pernoitar ali. Pela tarde André foi passear com a garotada nos arredores e eu fiquei descansando e fazendo pergunta de cozinha pra Lia. Chegou a noite e instalamos nossas redes na varanda, tomamos um bom banho, jantamos numa mesa cheia de gente e de comida boa, ajudamos com a louça de toda a produção de tapioca, beiju, almoço e janta, até que: rede! E só fomos dormir quando dona Lia disse pro Zé que “Chega de história por hoje, homi”.
Na estrada nos acostumamos a dormir cedo porque quase sempre acampamos. Ao cair da tarde, corpo cansado do exercício e sem estímulos de luz artificial, é fácil pegar no sono antes das nove da noite. Mas o assunto naquela varanda estava tão interessante que nem vimos o tempo passar. Se não fosse dona Lia chamar, acho que Ribamar ia amanhecer contando história pra nós. E esse cara deve ter cada história!
Conhecido como Índio, seu José de Ribamar nos mostra suas recordações, premios, vitórias e muita história pra contar de sua juventude no esporte.
Com os filhos e alguns vizinhos, seu Zé Riba mostra suas fotos e conquistas no ciclismo.
Saindo para um passeio com os meninos.
Na trilha dos fundos de casa.
Nada de matar passarinho, é só treino de mira.
Eles correram, foram longe, e se cansaram. Menino criança é assim, onde cansou deita, tipo cicloviajante, meio fio é travesseiro.
Quintal da dona Lia, esposa do seu Ribamar. Como aqui chove pouco, tudo fica mais à vontade, com vista pras estrelas.
14/01/14 – Com. Trincheiras a João Câmara
Amanhecemos depois de uma noite fresca e bem dormida na rede. Mas mesmo pulando cedo é difícil sair assim correndo só porque temos um longo caminho pela frente. Nós nos apegamos às pessoas que nos recebem em suas casas, e também nos sentimos em casa muito rápido, mais ainda quando insistem pra que a gente fique mais um dia. Tomamos café com, adivinha? tapioca e beiju feitos pela dona Lia e muita conversa boa sobre a vida e sobre simplicidade. Quisemos comprar alguns quitutes deles que haviam sobrado da venda do dia anterior, pra levar na viagem, mas pensa que eles aceitaram pagamento? Seu Zé ainda enfiou umas camisetas na nossa mochila sem a gente ver.
Foram momentos breves, mas intensos ao lado deste casal de coração enorme. Obrigado Dona Lia e seu Riba, vocês são exemplo de força, determinação, simplicidade e alegria. Que mais precisamos desta vida?!
Foi emocionante mais esta despedida. Aquelas que dá um nó na garganta mesmo e a gente nem consegue falar. Dona Lia abraçava a gente forte e não queria nos deixar ir, parecia mãe da gente. Essas mães emprestadas que vamos achando no caminho e atenuam nossa saudade dos nossos familiares. Seu Zé não se aguentou. Pegou a magrela que estava em cima do guarda-roupa do quarto (tu pensa que ele ia deixar lá fora no quintal com as panelas da dona Lia, a preciosa bike?!), mas o pneu estava murcho. Mandou a gente ir na frente que ele ia pegar outra bicicleta e trocar de roupa. Dez minutos depois, quem aparece no retrovisor?
Na hora de ir embora, é claro que seu Riba queria tirar a poeira da bike também. Fomos indo na frente até que ele resolvia os pneus murchos, com a promessa que nos alcançaria, e não é que ele chegou rapidão mesmo!
Momento Selfie com Zé Riba-Índio, o grande ciclista nordestino, grande recordista no ciclismo brasileiro. Pedalando numa GT de cromoly ainda ganha muito jovenzinho com bike de carbono nas competições que até hoje participa.
Nos despedimos do seu Zé na cidade vizinha, ele tinha que voltar com as gomas para tapioca, pra dona Lia seguir com a produção do dia. E nós, no sentido oposto rumamos para Natal. Comemos uma melancia no mercado público ali na rua mesmo antes de seguir. Mas lá pela hora do almoço vimos um pessoal tostando castanha de cajú e resolvemos parar para assitir ao processo. Começamos a conversar com o pessoal, perguntando sobre tudo que envolve o processamento artesanal deles com a castanha. Foram muito simpáticos e compramos umas castanhas ali, estavam deliciosas! Na hora de ir saindo pra estrada, nos chamaram de volta e nos deram duas melancias pra levar “de lanche pra viagem”, hahahahaha. Jura? Tivemos que comer uma por ali, porque não teríamos espaço e pernas pra levar ambas, e o pessoal não tava aceitando recusa não! Então uma eu tive que levar, porque nos alforges pequenos do André não cabia. Senti logo a estratégia dele de seguir com alforges menores que os meus agora no calor brasileiro! Mais umas duas horas de pedal movidos a melancia, paramos numa sombra e devoramos a outra melancia que ainda carregava. Pra ser mais fácil, nós cortamos os pedaços da polpa e colocamos dentro de um pano que usamos só pra comida, e ordenhamos o leite de melancia pra dentro de uma jarrinha e mandamos tudo pra dentro. Assim fica fácil comer 3 melancias por manhã…
Depois de tanto pedalar pra seguir o ritmo de seu José de Ribamar, deu fome! Paramos numa banca de beneficiamento de castanha de cajú para observar o processo artesanal. Aqui o pessoal monta esas bancas na beira da estrada, tipo lá no sul quando é época de uva ou pinhão. Ficamos uma meia hora de papo, e quando íamos saindo, nos deram DUAS melancias “pra viagem”, hahaha, haja espaço nos alforges!
O pessoal gente fina que trabalha na banca de castanhas de cajú. Neste processo estão quebrando a casca mais externa que está carbonizada.
O mais novo vai descascando a casquinha mais fina da castanha, já no processo final.
Primeiro as castanhas vão pro fogo, e quando atingem certa temperatura, os óleos que saem da castanha também viram combustível pro fogo. Depois é preciso jogar na areia para parar o processo de queima e não torrar demais a casca e atingir a castanha que está ali dentro.
As castanhas no fogo recisam ser constantemente revolvidas para tostar por igual.
No final do dia nos aproximamos da cidade de João Câmara, e já na entrada da cidade descolamos uma estadia num parque de vaquejadas particular. Foram muito simpáticos e nos deixaram pernoitar dentro de um dos camarins de show, tinha até ar codicionado. Como estava cedo ainda, e nós sem mantimentos, fomos até o centro da cidade comprar algo para cozinhar na janta e comer no café, e retornamos ao nosso “palácio” a tempo de curtir o pôr do sol de cima do palco.
As vezes tudo que a gente quer é tranquilidade no final de um dia cansativo de pedal.
Vista da nossa casinha de hoje. Cada dia um quintal mais maravilhoso. Obrigada natureza, vai ser linda assim aqui pros meu zóim ver!
Tipo Os reis do camarim! Nossas instalações dentro do camarim de shows, com direito a ar condicionado e banheiro privativo. Só não tinha toalhas de algodão brancas, champagne e brioches. Mas o resto estava Má-Rá!
Na manhã seguinte havia uma tensão na entrada da cidade, mas somente veículos motorizados (nós!) não passavam pelo bloqueio da população. Era uma manifestação pedindo por atenção política quanto à segurança na cidade. Muitos assaltos e roubos em sequência sem ter nenhuma providência da polícia. Passamos sem problemas e seguimos com estrada vazia até as proximidades da capital Natal. A entrada na cidade grande foi uma das mais tensas da viagem, e quase tivemos um acidente grave. Estávamos passando por uma das pontes de grande movimento e velocidade e sem acostamento, apenas aquela faixa branca de 10 cm e mais uns 20 cm de sujeira na beira da pista. Nisso um ônibus muito rápido passa por nós justo quando surge um buraco imenso na ponte, se desviasse o ônibus passaria por cima da gente, se passasse por cima poderíamos ambos cair ou danificar as bikes, era enorme o buraco. Mas não dava tempo de pensar. Se freiasse o motoqueiro colado na traseira da gente passaria por cima… Eu nem lembro bem como tudo aconteceu, acho que passamos pela beirada mais próxima da mureta de proteção da ponte, por cima de um lado do buraco, e a sensação ao sair da ponte foi como de ter ganhado uma vida extra no video-game da vida real. Cara, que trânsito infernal! E como dirigem mal. Chegamos ainda tremendo de nervos ao local combinado com os Warmshowers que nos receberiam na cidade.
A população em João Câmara se mobiliza. Após dois cidadãos sofrerem assalto sem nenhuma resposta da polícia, os moradores fecham a rodovia cobrando providências por melhor segurança.
Toda tensão se dissipou ao conhecermos Gorete, a anfitriã sorridente e carinhosa que foi ao nosso encontro pedalando calmamente junto com seu filho Daniel. Ambos nos guiaram por ruas mais calmas até sua casa. Agora serão alguns dias de descanso até o próximo trecho. A história segue nas próximas postagens!
Um abraço apertado em todas as famílias potiguares que nos receberam carinhosamente em sua terra linda, Rio Grande do Norte. Gratidãããããão!