Nísia Floresta(RN) a João Pessoa (PB) {Mais ao Leste das Américas}

Trajeto: Nísia Floresta > Praia de Tabatinga > Praia de Barreta > Tibau do Sul > Praia da Pipa > Chapadão > Barra do Cunhaú > Baía Formosa > Sagi> Barra do Camaratuba > Baía da Traição > Rio Tinto > Mamanguape > Bayeux > João Pessoa

Km aproximada: 215 km 

4 noites acampamento (2 pagos | 2 selvagem) 2 noites em casa de família

Deixamos cedinho a chácara da Lagoa Redonda e nos despedimos dos amigos. O pedal passou por outro caminho, desta vez passamos por dentro de Nísia Floresta e pegamos um caminho repetido pelo asfalto até a praia de Tabatinga, onde tentamos a sorte pra ver se a Casa da Tapioca estaria aberta pela manhã. O plano era encher a pança de beiju, tapioca e puba, mas demos com a cara na porta e seguimos com poucos recursos alimentícios. O que não era problema já que esta semana de descanso e reposição de estoques adiposos foi bastante eficiente, então pudemos gastar a reserva corporal sem muito sofrimeto.

Entramos pela praia de Tabatinga pois o plano era seguir sempre que possível pela areia da praia, já que do asfalto ou estrada de chão pouco conheceríamos do litoral real. Fizemos uma pausa para lanche ao lado de uma lagoa de água doce lotada de turistas, onde o dono do bar mais movimentado nos liberou a senha da wifi. Seguimos com a proximidade da maré mais baixa, chegamos até o final da Av. Atlântica e adentramos na areia fofa na trilha Barreta a Malembá, empurrando as pesadas bikes no caminho que os bugueiros fazem até a praia de Malembá onde há uma balsa para travessia até a praia de Tibau do Sul.

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Barreta, onde o mar faz cachoeira.

 

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Começo da trilha pela praia até Malembá, só no empurra e puxa, quase nada de pedal mesmo na maré baixa.

Não deu pra pedalar quase nada e chegamos moídos na balsa. A cena era linda, um mar de cor intensa e muitos praticantes de kite surf colorindo os pontos de fundo azul de céu e mar. Do outro lado uma praia ainda mais movimentada e cheia em pleno meio dia. Abrimos uma caixa de feijão e outra de milho, misturamos nossa farinha de mandioca enquanto as bicicletas tomavam um banho de sol. Tomamos cuidado de nos afastar do fervo de gente, para podermos fazer nosso almoço mais tranquilos, mas nenhum ponto de sombra estaria disponível no momento. Não deu pra descansar muito, mas ao menos enchemos os tanques pra chegar até a praia da Pipa, a famosa!

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Tibau do Sul, pausa para o banho de sol.

De Tibau do Sul seguimos pelo asfalto depois de uma íngreme subida pelas ruas de calçamento até a RN-003, uma rodovia que passa por sobre as falésias e de onde avistamos o mar e a praia lá em baixo e ao longe. Paramos em um mirante de onde a vista era magnífica, que lugar especial do país, não é a toa que tanta gente vem veranear por aqui. A estrada apesar de não ter um acostamento tem pouco movimento e os carros passavam tranquilamente, parecia que todos estavam mesmo de férias.

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Mirante ao longo da estrada RN-003 entre Tibau do Sul e Praia da Pipa

Chegando na Praia da Pipa passamos pela entrada de um Santuário Ecológico e mais à frente encontramos um camping. André foi verificar se o preço estaria de acordo com nossos bolsos e conseguiu negociar um valor razoável e uma das diárias em troca de umas horas de trabalho com jardinagem. Mas o que empolgou ele em ficar aí mesmo eram os pés de Açaí Juçara carregados no quintal do camping, e o dono deixou ele subir pra tirar uns cachos maduros, já que estavam caindo para os peixes do tanque mesmo. Então nem bem deixamos as bicicletas estacionar, André já estava com uma faca na mão a caminho da subida da palmeira.

O dono do camping só ria da situação, um magrelo pendurado lá no alto, não entendendo muito bem a motivação do rapaz em tanto esforço, mas no final lá estávamos nós com dois cachos de açaí pra bater. O camping saiu barato, uma diária por jardinagem e a outra “paga” com o cremoso açaí que deixamos de comprar na vila, inclusive diríamos que saímos com lucro, pois consumimos uns 2 litros de açaí no camping mesmo, e mais um litro levamos congelado para o dia de pedal. Na vila, uma cumbuca de 500 ml de açaí importado do Pará saía não por menos de R$17.

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Resultado da colheita em uma pequena toceira de Açaí Juçara.

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Duas belas bacias de açaí que renderam uns 3L de caldo grosso, combustível pra ciclista!

Deixamos as bagas de molho e depois improvisamos um pilão com um pau de madeira e nossa panelinha. Por sorte na cozinha do camping encontramos outros equipamentos muito úteis, além de um freezer a disposição onde tomamos o cuidado de esconder muito bem o pacote de açaí congelado. Montamos acampamento e fomos dormir contentes de finalmente após tantos meses, poder consumir o ouro negro amazônico por aqui na mata atlântica também.

Na manhã seguinte fomos conhecer o santuário ecológico ali próximo, e conseguimos chegar bem na hora em que as grandes tartarugas vem pra perto da costa para comer. Depois passeamos um pouco pela vila, compramos mantimentos e voltamos ao camping pra trabalhar no jardim e pagar nossa diária.

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Camping ecológico de Pipa, lugar delicioso e muito bem cuidado. Um dos nossos campings privados preferidos da viagem!

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Preparando o caldo do açaí na cozinha do camping, escorredor de macarrão, panela, peneira, tudo improvisado!

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Batendo açaí no pilão improvisado, um todo de madeira encontrado no mato e uma sofrida panelinha de camping faz o serviço!

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Ouro negro quase no ponto! Pilão improvisado de camping, hehehe.

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Coando o açaí depois de liquidificar.

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Pura energia, açaí!

Saindo da Pipa, passamos pela praia do amor e pelo Chapadão, depois seguimos por uma estradinha de areia em direção a Barra do Cunhaú. Dali pegamos mais uma pequena balsa e fomos parar do outro lado do rio. O lugar era lindo, uma praia deserta na beira da água doce, e do outro lado o animado vilarejo. Paramos numa palhoça descansar um pouco, ali só areia fofa e foi pesado puxar a bicicleta até a parte de areia pedalável.

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Chapadão da Pipa, lugar lindo!

Seguimos pela praia deserta e passamos por diversas tartarugas imensas que o mar trouxe mortas para a praia, uma delas tinha uma rachadura no casco e parecia recente que havia acontecido, o sangue ainda fresco escorrido na areia. Com essa triste visão ao entardecer, começamos a buscar um local pra passar a noite. Não teríamos água suficiente nem para tomar um banho de lenço, mas encontramos um belo lugar pra montar a barraca debaixo dos coqueiros de uma plantação. Assim cozinhamos a comida com água de côco, bebemos água de côco e o café da manhã foi côco. Assim a água que tínhamos foi suficiente para chegarmos até o próximo vilarejo, Baía Formosa. Daí em diante mais uma sequência de praias desertas até chegarmos ao pequeno amontoado de casas na praia do Sagi.

 

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Noite no coqueiral da praia deserta, entre Barra do Cunhaú e Baía Formosa. Noite sem banho mas muita água de côco.

Chegamos em Sagi quando a maré já estava alta e não adiantaria seguir. Ficamos numa barraquinha na beira do laguinho, onde os moradores construíram para passar os finais de semana. Fizemos nosso almoço e ficamos umas 3 horas esperando a maré baixar. Pra ajudar a descansar e relaxar um belo banho em água doce de frente para o mar. Ali em Sagi, na beira da praia, uma vegetação rasteira verde com vários pontos cor de rosa. Chegamos mais perto e vimos um fruto, tiramos um pedacinho pra experimentar e que delícia, uma doçura só. Comemos uma barrigada desta fruta do cactus.

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Mandacarú, é você? Fruto doce nos cactus na beira da praia, uma delícia!

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Fruto do cactus que encontramos na praia, comemos uma porção destas frutas doces.

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Lagoinha de água doce na praia do Sagi, divisa de estados, Rio Grande do Norte e Paraíba.

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Muita dose de praia deserta pedalável por estas bandas.

De Sagi saímos na hora que a maré começou a baixar, quando então a bike afundava menos a roda na areia fofa e era possível voltar a pedalar um pouco mais. Mesmo assim foi difícil o final de tarde pois mesmo com maré baixa, a época do ano e a lua não estavam com maré no mínimo e a areia não estava no ponto de compactação ideal para pedal. Atravesamos dois pontos onde há rios desaguando no mar e há balseiros, nos atravessaram sem cobrar pois fomos de carona numa leva de Jipeiros que chegou. Mesmo assim nós já havíamos começado a atravessar as bikes e bagagagem nas costas quando esta oportunidade surgiu.

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Encontramos uma palhoça na praia à beira de um lago de água doce.

Nísia Floresta(RN) a João Pessoa (PB) {Mais ao Leste das Américas} Entardecer na lagoa doce que encontramos no final do dia, que delícia poder dormir refrescados e limpinhos!

Fomos encontrar onde dormir já quando anoitecia, uma palhoça a beira de uma lagoa de água doce que os moradores usam aos finais de semana, estava trancada mas a varanda com chão de areia liberada. Colocamos a barraca debaixo do telhado e tivemos mesas e bancos para um jantar maravilhoso, com lua cheia refletindo na lagoa e tudo. Um dia delicioso, não poderia querer vida melhor!

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Palhoça que encontramos pra acampar, não havia ninguém e estava trancada.

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Praias desertas no caminho.

No dia seguinte pulamos ainda escuro e começamos pedalar muito antes dos primeiros raios de sol pra tentar chegar antes da maré subir em Barra do Camaratuba, onde supostamente conseguiríamos uma balsa apenas neste horário para atravessar o rio, e do outro lado poderíamos encontrar uma estrada de chão que seguiria até Baía da Traição. Mas chegamos lá muito cedo ou não havia balsa mesmo. Tivemos de atravessar com as coisas nas costas mas a tempo da maré não ter enchido muito ainda.

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Cruzando o rio em Barra do Camaratuba

Em Barra do Camaratuba não encontramos ninguém para perguntar sobre estrada ou sobre o caminho até Bahia da Traição pela praia, se era possível passar ou se haveria mais rio ou falésias. Também, não era nem 7h da manhã e o vilarejo ainda dormia. Passamos o rio com água até as coxas e seguimos pedalando o mais rápido que pudemos pra praia deserta, tentando um pouco em vão passar pelo trecho de praia ainda antes da maré voltar a subir. O risco que corríamos era não conseguir passar em um ponto mais adiante onde nos comentaram ainda em Baía Formosa, que haveria um trecho com pedras, mas que de bicicleta seria possível passar.

Lá pelas tantas, no meio de uma vegetação baixa, avistamos uma casa ou refúgio, difícil dizer se era apenas um abrigo ou uma morada de ermitão. Alguém se movimentava por lá e o André se dirigiu à entrada para perguntar sobre o caminho adiante. Com a resposta ele voltou, haveria duas regiões com pedras, que, se chegássemos na maré alta não conseguríamos passar, uma era logo adiante, e a outra já perto de Baía da Traição.

Pedalamos o mais forte que podíamos, mas logo com o começo da maré subindo éramos constantemente jogados para cima da areia fofa e as rodas de trás sambando como se já fosse carnaval. O resultado deste trecho maravilhoso de belas paisagens foi pouca foto, correria e uma contemplação incompleta do lugar, tentando olhar pra paisagem mas tendo que olhar para o chão. Paramos apenas para comer a única comida que tínhamos no alforge, nosso açaí congelado do camping de dois dias atrás, que já estava em ponto de consumo, com ainda alguns pequenos blocos congelados. Foi com essa única refeição que chegamos exaustos no bloco de pedras a transpor. Tarde demais para passar pela areia, se é que na maré baixa isso seria possível.

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Quase nem paramos pra fotografar este trecho lindo, falésias, praia deserta, e um longo caminho de areia pela frente. Uma breve pausa para comer e fotografar.

Descarregamos tudo da bicicleta e começamos pouco a pouco atravessar os equipamentos por sobre as pedras ásperas e pontiagudas com todo o cuidado para não derrubar nada no mar ou nas fendas das pedras, e também para não cair, desequilibrar e por consequência nos machucarmos. Foi um momento bastante tenso, ainda mais por não passar ninguém por ali, e no caso de um de nós virar um pé ou cair, não haveria ninguém para chamar ajuda. O processo todo levou quase uma hora, e dali até B. Traição a maré já estava alta demais e só foi possível empurrar.

Depois de dois dias passando só em pequenos vilarejos pesqueiros e andando apenas pela areia de praias desertas, achamos B. Traição movimentada demais. Pegamos a rua principal, em meio a casas semi destruídas pela maré e chegamos ao primeiro supermercado exaustos, com muito calor, pressão baixa e desanimados de cansaço. Era hora do almoço e o cheiro de comida revirava nosso estômago. Mas estávamos com tanta sede e fome que devoramos uma melancia, dois abacaxis, um mamão e dois cachos de banana em questão de minutos. Sentíamos novamente a energia fluir pelas veias, e o entusiasmo voltar à mente, conseguindo a motivação necessária para seguir a pedalada do dia.

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Tiozinho falou que passa de bicicleta, só não passa Jipe e Buggy.

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Passando a bike por cima das pedras, momentos tensos do dia, correndo contra a subida da maré.

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Pausa pra apoiar a bike e descansar.

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Chegando à Baía da Traição só empurrando.

O restante do caminho foi por estrada de asfalto com muitos sobes e desces, mas em uma região linda e bastante rural por ser tão próximo do mar. Ao fim da tarde fomos cair direto na pequena cidade de Rio Tinto, onde tentamos sem sucesso pouso em duas escolas. Até que uma pessoa boa surge em nosso caminho. Primeiro, nos auxiliou chegar até a polícia, onde nos apresentaríamos e buscaríamos autorização para acampar em algum campinho de futebol ou qualquer área pública disponível.

Mas antes disso ela ligou para o marido que voltava de um pedal e assim ambos de acordo nos convidaram a pernoitar na casa da filha que estava vazia para reformas, em frente à casa onde moram. Como se não bastasse este gesto de generosidade a dois completos estranhos sujinhos que surgiam do nada em sua cidade, nos convidam para jantar e para tomar café da manhã antes de irmos embora.

Nísia Floresta(RN) a João Pessoa (PB) {Mais ao Leste das Américas}Casa que pernoitamos. Anotar os dados do dia anterior, começar mais um dia de pedal.

Fizemos uma bela amizade em tão poucas horas de convivência com Josenalda, Milton e seus filhos, é engraçado como a identificação gera em nós um laço. O casal começou a pedalar junto a pouco tempo e já estão contagiados com esta nova atividade física em suas vidas. Nos contaram de tantos benefícios que as pedaladas trouxeram não só para a sua saúde, mas de novas amizades feitas nas trilhas e o companheirismo entre eles dois principalmente. Foi muito bonito de ver que a bicicleta transforma a vida das pessoas tão positivamente, mesmo depois da idade adulta, nunca é tarde demais para começar algo novo que nos faça bem!


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Milton e Lela, muita gratidão pela amizade e por tudo que fizeram por nós na charmosa Rio Tinto!

Despedir de amigos recém feitos é tão difícil quanto nos despedir dos amigos de longa data. Em nossos relatos pode aparecer algo bastante repetitivo, nosso agradecimento a tantas pessoas que nos acolheram como filhos em suas casas, deste jeito mesmo: sujos, suados, cansados, sem ter onde dormir. Mas é que o jeito que levamos nossa viagem parece conduzir a estes encontros com pessoas que nos ensinam tanto sobre a generosidade e simplicidade. Somos extremamente gratos a Josenalda e ao Milton, seu carinho conosco é algo que não vamos nos esquecer e buscaremos sempre passar adiante, a corrente do bem não pode parar.

Deixar a tranquila Rio Tinto depois deste abraço foi forte, ficamos conversando como a rotina da vida na bike não nos permite abandonar as esperanças, havíamos levados duas negativas de pouso num dia em que estávamos extremamente exaustos e já sem muito ânimo para pedir ajuda em outro lugar. Ainda nos restava tentar outras alternativas, mas uma pessoa do bem apareceu no nosso caminho. Como não sentir gratidão à vida por essa sincronia?!

O resto do caminho seria só asfalto. Em João Pessoa já teríamos onde ficar. O Álvaro, amigo do pessoal que nos acolheu em Natal tinha feito o convite já desde nossa estadia em Nísia Floresta. De Rio Tinto chegamos direto a João Pessoa por movimentada rodovia. Entramos por Bayeux e enfrentamos um trânsito intenso, mas foi uma das capitais que sentimos o maior respeito aos ciclistas. Além de desviarem com paciência sempre que não havia acostamento, logo surgiu uma ciclovia que nos levou da borda industrial até a parte nobre próxima ao mar.

Também nos abordaram algumas pessoas enquanto estávamos descansando, mostramos as fotos da viagem e algumas pessoas colaboraram conosco levando algumas. Assim conseguimos dinheiro suficiente pra um almoço forte, já que há dias não comíamos feijão, que já fazia falta no corpo. Novamente surpreendidos pela generosidade, o pessoal do restaurante não aceitou que pagássemos pelo suco e sobremesa, fazendo ainda um belo desconto por não comermos carne e nos trouxeram diversas porções extra de salada assim que viam o prato se esvaziar.

Sabe, quando você vive muito tempo na estrada o fato de comer uma pratada de salada verde, assim lavadinha e belamente enfeitada, é um grande luxo ao qual nos presenteamos poucas vezes. O pessoal do restaurante percebeu. Empatia! É difícil ter empatia, você precisa se colocar no lugar do outro e pensar como o outro, tentar sentir como você se sentiria se estivesse naquela situação.

Como ainda era cedo fomos conhecer o marco do ponto mais oriental das Américas, a ponta do Seixas. Chegamos um dia antes do combinado na capital paraibana e fomos a um camping muito legal do Camping Clube do Brasil na praia do Seixas, bem na beira do mar e com preço especial pra ciclistas “pidões“. Ficamos uma noite por lá e no dia seguinte fomos pro apê do Álvaro, onde descansamos por mais um dia.

Aproveitamos a estada no camping pra conhecer o pessoal que estava por lá, muitas figuras! Um deles um senhor aposentado que já vive há 10 anos em sua combi-motor-home, parando de camping em camping conhecendo o Brasil. Com ele pegamos umas belas dicas do caminho para o sul, sempre pelo mais litorâneo possível, e anotando direitinho os pontos de camping indicados por ele. Ele tinha mapas e mais mapas marcados com destaca texto as estradas que já percorreu pelo país e os campings em que já “morou”. Um mapa preto e branco pintado quase inteiro de amarelo flúor. Muita informação útil para nós e uma pessoa interessantíssima de conhecer e conversar.

É engraçado que quando conhecemos pessoas que diferem do padrão do “socialmente aceito”, não há assunto sobre amenidades, mas sobram papos interessantes de ambos os lados, e nós mal encontramos tempo para respirar entre uma fala e outra. É uma curtição!

Nosso amigo Alvaro fez questão de nos buscar no camping, nos levou ao apartamento e ficamos por lá à vontade como se estivéssemos em casa mesmo, será que estamos ficando folgados demais? Não sei, só sei que o Alvaro não se contentou em nos deixar à vontade só na casa dele, no sítio também e na casa dos parentes também, hehe, e ainda nos levou passear, conhecer pontos históricos da cidade e pra almoçar fora, acho que estamos ficando mimados demais pelos amigos da estrada.

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Tapioca com côco e café em xícara de cerâmica numa sacada de frente pro mar, ô bença!

Em JP conhecemos nossa atração preferida em cidades grandes- não, não é shopping center, é a feira livre, cheia dos seus sabores, cheiros e personagens. Também gostamos de conhecer o centro histórico, a beira mar, mas nada tão pulsante como uma feira livre.

JP ns lembrou um pouco Floripa, bem organizada e limpa, mas com um ar mais tranquilo, mais praiano. Depois de uma dose de rotina urbana e conhecendo familiares, o amigo nos convidou pra conhecer a casa que está construindo na área rural, ele mesmo lidando com a obra sozinho, professor universitário que é pedreiro para si nos finais de semana e folgas, além de conciliar com as atividades desportivas que pratica (cicloturismo, entre elas).

Seu jeito de levar a vida nos inspirou bastante, mostrando como é possível desenvolver habilidades tão diversas na vida pessoal, buscando sempre o equilíbrio e o caminho que nos faça ver felicidade, no aprendizado e conquistas de coisas simples, o contentamento.

Mais um “até logo” difícil, ao Álvaro e a João Pessoa, foi uma combinação de coisas boas e gestos de bondade em uma sequência sem intervalos. Gratidão, gratidão e mais gratidão.

Nísia Floresta(RN) a João Pessoa (PB) {Mais ao Leste das Américas}Amigos que a estrada nos deu, todos vocês que a vida fez cruzar caminhos, vocês não sabem o tanto de sentimento bom que despertam em nós, a cada lembrança, em cada foto que revemos, em cada conversa ou situação que a memória traz aqui e ali, a viagem só é linda por causa de vocês.

Hora de seguir e despedir do amigo Álvaro, muito gratos por esta hospitalidade, mas mais do que isso, por todos os exemplos e aprendizados!

De João Pessoa ao sul no próximo post!

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