Oruro-La Paz, por menos de dez reais
Chegamos em Oruro nos sentindo as piores criaturas, uns largados no mundo. Sem comida, sem dinheiro, tivemos que apurar o passo até aqui. Depois de dois dias cansativos forçando o ritmo por nossa comida e dinheiro ter encontrado seu fim, chegamos em Oruro lá pelas 15h, no forte do movimento das caóticas vãns coletivas, poeira levantada pelo forte vento, gente para todos os lados, famintos, desconfiados, agitados, alertas. Se foi a calmaria do sul da Bolívia, chegávamos enfim a uma zona fortemente povoada. Deu nos nervos entrar nessa cidade.
De tão cansados e sem paciência (e aí a fome ajuda em tudo pra pior), ficamos com a primeira espelunca que vimos pela frente, a primeira hospedagem que apareceu na rua, prometeram banho quente, e foi a maior frustração ter que tomar banho gelado num dia frio e num banheiro nojento (digno de uma locação de filme de terror), depois de 15 dias só no lencinho. Aí André conseguiu uma dor de pança, (já que ninguém passa livre de alguma coisa relacionada à barriga e afins na Bolívia) e no dia seguinte tomaríamos um ônibus para La Paz. Depois da entrada em Oruro, não estávamos preparados psicologicamente pra enfrentar o trânsito urbano boliviano. Procuramos com calma, e desta vez achamos o Grand Hotel Bolívia, por apenas 10 bolivianos a mais que a espelunca, tínhamos um ótimo banho quente, tv a cabo, wifi e um belo cantinho pra deixar as magrelas à nossa vista.
Depois de André se recuperar, pegamos o ônibus Oruro-La Paz sem chorumelas, os caras deixaram colocar a bicicleta inteirinha no bagageiro do busão e não cobraram nada a mais por isso. Por 20 bolivianos cada um chegamos ao centro de La Paz. Nessa indescritível cidade enfiada numa enorme falha cercada por montanhas nevadas, nos esperava nosso amigo Kevin, a quem hospedamos alguns anos atrás quando ele passava por Florianópolis em sua viagem de bicicleta. Kevin nos recebeu como um irmão na casa de sua família, e ainda nos levou em um tour privado e totalmente exclusivo, guiado por ele mesmo, pelos arredores de La Paz. Passamos por bairros que nenhum turista costuma passar, passamos por estradinhas estreitas e à beira dos precipícios pelas montanhas para chegar ao topo e apreciar o Illimani com a lua nascendo no final da tarde, visitamos os cânios de areia e seus pilares incríveis, e por fim, apreciamos a bela vista de La Paz ao anoitecer, as luzes da cidade acendendo com o cair da noite. Chegamos cansados à casa e ainda fizemos uma mega-janta vegana para 9 pessoas, amigos e familiares de nosso anfitrião. Foi um final de dia engraçado, nos divertia o pai de nosso amigo, que é ator, uma verdadeira figura. Nos despedimos da amável família e rumamos para passar dois dias na casa de ciclistas, onde repousavam nossas bicicletas. Elas nos aguardavam lá para um Check-up geral, mas coisas inesperadas aconteceram…
Ps: Sobre os ônibus de Oruro a La Paz, caso você não queira pedalar este trecho e evitar a caótica entrada na cidade, informações importantes:
1- Há muita concorrência entre as empresas que realizam este trajeto, então não aceite pagar mais que o valor estabelecido, em junho de 2013 pagamos $20 bolivianos cada um.
2- Deixe claro que você quer levar junto consigo sua bicicleta com carga, pesquise entre os vendedores de passagem quem aceita levar a bicicleta inteira no bagageiro sem cobrar nada a mais por isso, e sem precisar desmontar toda tralha da bike.
3- Certifique-se de que o ônibus terá como destino final o terminal de ônibus no CENTRO de La Paz, e não em El Alto. É muito comum venderem a passagem até La Paz e te fazerem descer em El Alto.