Paso de Jama #fail
Saímos de Catua finalmente. Este povoado que nos deixou presos pela neve, pelo passo de fronteira fechado e pela falta de dinheiro. Decidimos pegar o caminho à direita que conecta Catua a estrada de Jujuy a Pueblo Jama. Foi um dia de muito esforço pelo rípio ruim, muita subida, falta de ar, frio, vento, neve.
Como se não bastasse o esforço do pedal, fomos atacados por Llamas que defendiam seu grupo e se assustaram conosco em uma das curvas que vínhamos descendo em alta velocidade. Abaixo está o vídeo que não nos deixa mentir!
Ao final da tarde chegamos ao asfalto e por sorte encontramos uma ruína onde montar nossas sacolejantes barracas, pois nas casas ao outro lado, as senhoras não nos foram muito amistosas, decidimos não abusar da pouca paciência delas. Tivemos que cozinhar o jantar dentro da barraca, nem no avancê era possível, o vento era tanto, que a areia rodopiava, rebatia nas paredes, até pelas mínimas frestas do zíperes os grãos mais pequenos invadiam nosso quarto. A noite foi barulhenta, e pela manhã…
…o vento continuava, mesmo pulando cedo da “cama”, não foi suficiente. Depois de pegar um pouco de água de poço com os moradores da beira do asfalto, tentamos pedalar. Pedalávamos em fila, alternando a liderança a fim de não nos desgastarmos com o vento contra fortíssimo, e além disso, a inclinação da subida. Mesmo com André e Adrian liderando forte o corte do vento, não conseguíamos ir a mais de 7km/h. Cada caminhão que passava pela gente, esticávamos o dedo suplicante do pedido de carona.
Depois de uma hora de pedal desgastante, um “cavalinho” de um caminhão parou e nos levou. Era um brasileiro, estavam em comboio levando novos caminhões para o Perú. Nos levou até a aduana Argentina em poucas horas. O rapaz passava muito mal pela altitude, dava pena, mas nenhum de nós sabe manejar caminhão. Ao menos servimos para distraí-lo um pouco.
Na aduana nos informaram que de bicicleta não seria possível cruzar o passo, havia “vento blanco” e corríamos muito risco, além disso estavam liberando os veículos muito aos poucos somente até as 15h, depois disso nenhum veículo era permitido de seguir. O jeito foi continuar de carona com o grupo brasileiro, já que de bicicleta não carimbariam nossos passaportes.
A bordo do caminhão percebemos que a aduana argentina tinha suas razões em proibir nosso pedal por ali. O vento era fortíssimo e arrastava a neve de volta para a pista, além disso, o tráfego de veículos era intenso, pois muitos aguardavam há dias a passagem abrir.
Havia até um caminhão atolado no acostamento, provavelmente foi pego de surpresa. Ficamos aliviados de não estarmos pedalando nestas condições. Além disso, nossos amigos argentinos sofreriam mais que nós, pois carregavam menos roupas de frio.
A paisagem do passo coberto de neve era incrível, a sensação de não estar pedalando por ali causava uma certa mistura de sentimentos, alívio e vontade de sentir a paisagem 360º, e não apenas pela janelinha do caminhão, vontade de pedalar sobre a neve e preguiça de botar a cara no frio, medo de sentir o vento cortante, receio de pedalar com tantos caminhões passando a toda velocidade, todos os caminhoneiros só queriam saber de sair o mais rápido dali.
No final da tarde chegamos a San Pedro de Atacama. Não desfrutamos os 42km de descida até o pitoresco povoado. Só queríamos saber de nos acomodar em algum canto e desfrutar de um bom banho, coisa que desde Santo Antonio de los Cobres não sabíamos o que era. Finalmente um lugar a menos de 3 mil metros de altitude, clima ameno, um pouco menos sufocados pela quantidade absurda de roupa e um pouco mais de oxigênio enfim!
Agradecemos os brasileiros caminhoneiros que nos trouxeram até a civilização novamente. Fizemos os trâmites da migração chilena, e nos mandamos para o centro, bater perna atrás do hostel ou camping mais barato que pudéssemos encontrar, se é que conseguíssemos encontrar alguma coisa barata nesta cidade superexplorada turisticamente…