Santarém a Rurópolis {Teste para a Transamazônica}
Se pegar só a geral, rapidinho estaremos em casa, mas assim, diretão, pouco do país vamos conhecer, então o jeito é fazer curvas!
14/11/13 – Igarapé do Km 85
Saímos tarde de Santarém, mas a média de velocidade e o relevo plano ajudaram bastante. O primeiro trecho tem acostamento inexistente, e movimento acima do esperado. Mas assim que passamos Belterra já era possível ter alguns trechos com acostamento, e o restante estava sendo construído, depois disso, acostamento bom até Rurópolis, pelo menos nos trechos onde há asfalto. Encontramos açaí na estrada e também paramos pra comprar mamão numa vendinha na entrada de Belterra.
Depois disso foi só pedal até ver uma santa plaquinha “Água de Coco gelada”, pra quê?! Pedimos logo duas. Aí vimos que estava estupidamente gelada e deliciosa. Aí o dono nos deu mais uma porque a do André tinha menos. Então pedimos pra abrir e comer a polpa. Aí conversa vai, conversa vem, o dono lá ofereceu mostrar pro André como descascava o coco seco com enxada. Acabou nos dando dois cocos secos pra levar, além das polpas dos cocos verdes que guardamos num pote, poque não conseguimos dar conta de tudo. Reidratados, voltamos a pedalar os 5km que nos restavam até o Igarapé do km 85, onde pretendíamos acampar. Nos banhamos nas suas deliciosas águas geladas, um ótimo final de dia depois de um pedal suado.
No Pará, nosso combustível tá garantido a R$5 o litro, ah açaís!
Ainda bem que não consumimos derivados de leite, esse “iogute” aí tá meio suspeito!
Maçã do coco!
Banho merecido no Igarapé!
Pouco lugares de acampe foram tão luxuosos quanto o igarapé ao lado da estrada no km 85.
Além do luxo, mil estrelas neste hotel! Igarapé do KM85
15/11/13 – Começamos a manhã com aquela linda paisagem na janela da barraca, um igarapé lisinho e manso correndo por baixo da estrada. Então já levantamos de bom humor e colocamos a água pra esquentar. Improvisamos uma peneira pra peneirar a tapioca e botamos a frigideira pra esquentar. Por conta dos cocos que ganhamos ontem, recheamos a tapioca com coco ralado fresco banhado em um pouco de leite de soja que compramos em Santarém. Ficou uma delícia, mas também atrasou nossa saída um pouco. Fomos começar a pedalar lá pelas oito e meia, o que para o padrão paraense de sol já é calor demais. O resultado do dia foram 60km cansados até chegarmos ao restaurante do km 140. Pedalar no forte do sol desgasta mais e os quilômetros demoram mais a passar. Lá compramos um feijão cozido pra misturar com o arroz com farinha que sobrou da noite anterior. De tão cansados resolvemos pedir pra acampar no cobertiço dos fundos do campo de futebol. Poderíamos pegar cocos à vontade no quintal do restaurante, então começamos a lida. Nisso aparece um garotinho de 5 anos e começa a dar explicações sobre os cocos. André demorou a confiar no garoto, que só dava dentro “esse coco já tá muito seco”, “os daquela árvore lá estão mais verdes, tão melhor”, e o menininho foi nos cativando com sua inteligência mais além de apenas 5 anos de idade. Ficamos algumas horas ali sentados no chão, tomando água de coco sem parar e conversando com o esperto Luan. Ficamos desejando que todas as crianças fossem assim como o Luan, bem educadas, comportadas e ainda assim espertas e que ainda por cima ensinam a nós, os “adultos”. Ficamos ouvindo as histórias do Luan, que ajuda o pai na roça, ajuda a fazer cocada em casa e presta atenção no mundo ao seu redor. Não é só mais um alienadinho que gosta de personagens de desenho animado enlatados. Ele tem seus próprios heróis. Ainda não frequenta escola, mas sabe tudo de cobras, escorpiões, araras, onças e tem uma galinha e um cão de estimação, este já falecido que tinha o nome de Barão. Segundo Luan seu cão foi comido pela onça numa madrugada escura e barulhenta. Parece que a onça só tirou uma pena de sua galinha, que é mãe das outras galinhas todas do quintal. Por termos parado cedo deu tempo de tostar rapadura com 3 cocos secos que ralamos. Outros dois que nós também tomamos não demos conta de ralar e nem tínhamos mais potes pra armazenar.
Mas sair tarde (depois das 8h da manhã) tem seu preço, o suor do corpo junto com essa poeira tipo talco, faz uma perfeita argamassa que funciona bem como protetor solar.
Fim do pavimento, a alegria acabou! Agora começa a diversão!
16/11/13 – Fizemos por volta de 70km, entre asfalto e trechos de pura poeira fina que mais parecia talco, chegamos vermelhos da cabeça aos pés em Rurópolis, depois de duas tentativas de acampar antes de chegar na cidade. Tentamos numa casa, que mais de perto não pareceu uma boa ideia, parecia que estavam bêbados. Tentamos numa base da IcmBio da Flona, os vigias não deixaram porque não havia ninguém da IcmBio na hora lá. Ainda demos uma olhada no posto de gasolina, mas pareceu movimentado demais. Então perguntamos pela escola e nos indicaram uma bem pertinho, bem no centro. O portão estava aberto e o vigia disse que era só esperarmos pra falar com o vigia da noite, mas que podíamos ir tomando banho enquanto isso. Então, lá fomos nós tirar a grossa camada de poeira do corpo. O dia de pedal foi muito duro, estava quente e nenhum vento como nos dias anteriores. O relevo aqui é muito mais acidentado do que imaginávamos e era só subidas seguidas de descidas, pouco trecho plano, o que tira o rendimento em quilometragem. No meio do dia paramos na sombra de umas árvores na frente de uma casa e colocamos as redes. Tiramos uma soneca revigorante e fizemos suco de limão, que ganhamos do pessoal da casa. De almoço fizemos farinha de mandioca com pedacinhos de coco que já estavam começando a estragar. O resultado de muito coco pode ser um pouco desastroso nos dias seguintes, melhor ter uma boa moita em vista ou estar próximo a um banheiro.
Você vê o fim do martírio?! Muita poeira até encontrar os próximos poucos quilômetros de asfalto. Aqui quem constrói o pavimento é o exército.
Assim bem lindos chegamos em Rurópolis. Ainda bem que o vigia da escolinha não se assustou com nossas caras feias!
Sujos da cabeça aos pés!
17/11/13 – Escola Estadual em Rurópolis – dia de descanso, tapiocagem e lavação de roupas imundas. Também conseguimos um precário sinal de telefone onde conseguimos comunicar por e-mail a família de que estava tudo bem. Amanhã seguimos pela famosa estrada Transamazônica, que nos levará mais pra perto de Belém, a capital do estado, passando por lugares como Anapú, onde assassinaram a Irmâ Doroti, e por Altamira e Belo Monte, onde as controvérsias são grandes acerca da construção de uma certa hidroelétrica…Expectativas grandes para enfrentar este pedaço de chão!
Limpinhos outra vez, depois de um dia de descanso na escolinha, prontos pra enfrentar a lama (vide as poças) depois de um dia de chuvaradas no Pará. Transamazônica, aí vamos nós!