Trashera – a bicicleta adotada e reciclada
Se síndicos fizessem uma campanha nos prédios das grandes cidades “Adote uma bicicleta abandonada”, muitas pessoas poderiam estar se deslocando de maneira mais saudável e com um investimento mínimo, além de desentulhar muitos espaços mortos, pois moradores mudam e abandonam as velhas companheiras de duas rodas.
Aí a pessoa decide se deslocar ativamente e vai comprar uma bicicleta: “Mil reais uma bicicleta?! É muito caro!” Ok, mas porque comprar um cão com pedigree, quando muitos vira-latas estão esperando um lar?! Muitas vezes surgem bons negócios com bicicletas usadas, e cansamos de ver os amigos encontrando raridades por aí por preços absurdamente baratos, simplesmente porque as pessoas querem se livrar da magrela velha antiga. Experimentou deixar um recadinho no mural do prédio “Compro bicicleta”? Uma vez fizemos isso, e o resultado foi um ótimo negócio.
Desta vez foi um pouco diferente, pois a bicicleta vira-lata ia ser mandada para a carrocinha o caminhão da reciclagem. Então adotamos a Trashera, como ficou carinhosamente apelidada nossa recicleta laranjona.
O André estava às voltas procurando um quadro para montar mais uma bicicleta reserva e de uso cotidiano. É que estávamos subutilizando nossas bicicletas principais para os trajetos urbanos do dia-a-dia, muitas vezes precisando deixá-las presas por aí sem supervisão, já que cadeado pouco resolve ultimamente. Nossas primeiras bicicletas estão com peças razoáveis, próprias para levar mais peso no bagageiro, e confortáveis para pedaladas mais longas, e estava ficando complicado a manutenção e também pelo desgaste desnecessário das peças, por estarmos usando sempre essas mesmas bikes para fazer tudo.
Então que o zelador do condomínio, chama o André e pede uma opinião sobre a bicicleta que ele estava interessado em comprar de outro morador. Conversam um pouco, o negócio é bom, e o preço está condizente. Aí o André acaba perguntando de uma bicicleta laranjada largada ali do lado. Ele diz que ela foi esquecida ali, que está sem dono e que no próximo caminhão do lixo ela iria junto. “- Nããããão!” ele grita, mas gritou na imaginação apenas, o que ele disse na verdade foi “É sério? E será que ao invés de ir pro lixo, eu poderia ficar com ela?”, ele responde que sim, e que era até um favor!
A bixinha estava uma lástima! Coberta de ferrugem, suja, algumas peças quebradas. Aí começou a saga, dá banho, limpa, desmonta, desenferruja, compra lixa, spray… Pintamos a danada e o banheiro ficou todo laranjado! Mas ainda precisaria arrumar algumas peças, o guidão, rodas, pneus, pedivela, corrente, coroa, pinhão…
Um tempo depois, na cidade natal do André, fomos atrás do ‘Tiozinho das bicicletas’, procurando por alguma barganha, ele um senhor que em seu quintal possuía verdadeiras relíquias ciclísticas. Demos com a cara na porta, quase literalmente. O ‘tiozinho’ vendeu tudo para outra pessoa, pois argumentou que levou muito ‘cano’ de maus pagadores. Ele ficou apenas com duas bicicletas antigas speed em casa, o restante das preciosidades estava sabe-se-lá onde, porque o comprador do estoque faleceu pouco tempo depois de comprar tudo e não sabia o que a família do tal homem havia feito com a herança (tem gente que nem sabe o tesouro que tem em mãos!). Mas, ele ainda possuia um par de rodas 27, dois guidons, um quadro de caloi 10, e vários outros componentes desta bike. Arrematamos o derradeiro estoque e deixamos o tiozinho feliz da vida por ter se livrado da ‘tralha’.
Resumo da história, ao invés de peças para completar a Trashera, acabamos trazendo as peças faltantes e mais uma bike inteira para montar. Pronto, agora estamos com uma bicicleta extra para cada um, e elas devem ser feias, sim, bem feias para não atrair olhares dos amigos do alheio. Devido a manutenção e limpeza muito complicada das bikes com marcha, apostamos que monomarcha seria a melhor saída para essas bikes de uso urbano que estávamos para montar, colocaríamos os aros 27 que o ‘tiozinho’ nos vendeu, e pneus finos baratos. O resto, só na enjambra.
Depois da laranjona, nossa ‘Trasheira’, quase pronta, serramos fora uns 15cm do guidon, colocamos um protetor de corrente(mais detalhes de como fazer o seu no próximo post) que vimos num video tutorial da internet, que por sinal, tem sido muito eficiente, embora barulhento no início! Além do quadro e das rodas, outros componentes são de reuso, o selim e os puxadores de freios de uma bicicleta velha do André.
Essa bicicleta ficou super barata, e o melhor, ficou feia e esquisita o suficiente para ninguém querer empregar certo esforço em cortar a corrente ou quebrar o cadeado (mesmo assim, toc-toc-toc na madeira!). Embora feia, ficou chamativa pela cor laranja fluorescente, muito eficiente para a vista dos motoristas ‘ceguetas’. Ela já era laranjona, mas aplicamos mais uma demão de tinta recomendada pelo vendedor, que baseou sua recomendação mais pela cor da original do que da eficiencia na superfície que seria aplicada. Só depois de pintar uma primeira camada é que percebemos que ela seria pouco eficiente para o uso que pretendíamos. A tinta não cobriu totalmente as partes lixadas, mas pelo menos não tem descascado nem soltado partículas, e o melhor é que ficou com aquela cara de pintura mal feita (só a cara não, a pintura ficou mal feita!), de lata velha, cão sem raça… e esse afinal era o objetivo.
Mesmo desengonçada e feia, ficou muito leve, rápida e prática para os deslocamentos curtos e pra carregar escada acima!
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