Vulcões do Chile
Paramos em Puerto Montt apenas para ir ao mercado e conseguir um chip de celular para poder acessar e-mails. Enquanto eu esperava cuidando as bicis, uns 3 bêbados se aproximavam para conversar, bêbado é sempre chato! Dois consegui afastar, o terceiro queria me dar um abraço, fui salva de um abraço de bêbado, que sensação péssima! Mas o André chegou bem na hora, ufa! Detesto cidade grande. Depois dessa decidimos dar o fora. Fomos direto pra Puerto Varas, na intenção de ir a Petrohué e nos aproximarmos do Vulcão Osorno.
Puerto Varas é bem turística, mas precisávamos parar ali para André tomar a outra dose da vacina anti-rábica. Conseguimos pouso nos afastando do centro, em uma fazenda leiteira, uma família que pedíamos água, nos ofereceu o jardim. De P. Varas a Petrohuè o caminho é sinuoso e cheio de subidas e descidas, muitos vendedores de mel nesta época, além das várias casas de Chá Alemãs, e a bela vista do Lago Llanquihue, com várias prainhas convidativas a acampar.
Mas queríamos acampar aos pés do Osorno. Chegamos no final da tarde em Petrohué, depois de vários trechos de ciclovia e asfalto bom e 6 km terríveis de areia no final. O Camping da Conaf estava desativado e acampamos sem banho e sem custo com essa paisagem magnífica.
Mas o dia que amanheceu lindo foi fechando, em Las Cascadas paramos pra fazer um almoço e sem pressa, porque imaginamos que teríamos muitos campings pelo caminho, ou pelo menos muitas opções à beira do lago. Mas aí a ciclovia terminou, a estrada se afastou do lago, e começaram fazendas e mais fazendas. O dia abriu novamente e paramos em algumas propriedades pedir permissão para acampar. Todos alegavam que teríamos que procurar o gerente.
Todas eram fazendas leiteiras, e as casas eram apenas ocupadas por funcionários. Já anoitecendo encontramos uma em que o responsável nos recebeu. Acampamos numa grama cheia de calombos e cocô fresco de vaca leiteira. Chero boooommm! Mas ao menos conseguimos um canto.
É, nem sempre se consegue paisagens lindas, grama perfeita, rios de água limpa e cristalina de quintal… Estávamos mal acostumados. Chegamos em Osorno pela manhã e a missão era encontrar internet para saber por onde estavam os pais da Ana, e planejar a próximo trecho de pedal. Tentamos encontrar campings na cidade, mas só hostels caros.
Nos recusaram receberam em alguns bombeiros, decidimos seguir pela ruta 5 já no final da tarde, de qualquer maneira. Mas aí demos de cara com um camping luxuoso. Só que estava fechado. Choramos um pouco e a senhora topou nos deixar acampar, banho frio e nada de piscinas por mil chilenos cada um. Está ótimo!
Segundo dia na ruta 5, a grande autopista chilena. No começo parece um paraíso, acostamento, pavimento liso, vento a favor do vácuo dos caminhões, vários postos de gasolina com água fresca, banheiro, internet…Mas aí o dia se aproxima do final e você descobre que não tem muito onde acampar. Nas áreas de descanso há até chuveiro de graça, mas é proibido acampar em barraca. Seguimos para Los Lagos e a chuvarada nos pegou de surpresa no final da tarde. O camping mais próximo era afastado da cidade e tinha que entrar pelo rípio. Sem chance de pegar rípio no próximos dias, a paciência não deixa. Recorremos a mais uma fazenda leiteira e fomos acolhidos com simpatia e um pão com queijo.
Começamos a pedalar pela manhã e o tempo fechou outra vez e caiu o aguaceiro. Paramos nos abrigar num ponto de ônibus na frente de uma cooperativa de mulheres que servia refeições campeiras na beira da estrada, era tipo uma feirinha miniatura, com vários quiosques.
Nos deixaram ficar acampados dentro de uma das casinhas desocupadas, e ainda nos davam água quente para o café. Compramos uns paezinhos fritos com elas, as sopaipillas, e ganhamos uma porção de batatas fritas. Depois chegou uma senhora que vendia vegetais da horta dela, cenouras frescas e uma abobrinha italiana gigante. Levamos 4 dias pra conseguir terminar de comer a abobrinha enorme, todos os dias tínha refogado de abobrinha de janta e de almoço!
Em Panguipulli chegamos com tempo nublado e não pudemos apreciar a paisagem. Em Lican Ray o caminho foi lindo e sinuoso, o dia abriu e ao chegar à cidade encontramos outro casal de ciclistas que ia na mesma direção que a nossa. Passamos por Villarica num entardecer lindo, mas com o Vulcão encoberto, até que ao final do dia chegamos em Pucón, onde havíamos entrado em contato com um Warmshower.
Queríamos ficar 2 dias em Pucón, descansar e seguir, mas começou a chover e esfriar, decidimos esperar uns dias a mais. Nosso anfitrião era muito sossegado, e para agradecer sua hospitalidade, fizemos várias tortas de maçã e chocolate, que ele devorava sem cerimônias! No dia que o tempo abriu, o Vulcão Villarica estava coberto de neve, lindíssimo! Nosso amigo nos acompanhou por uns 40km e nos deu a preciosa dica de passar pelo parque Conguillio, aos pés do Vulcão Llaima e suas duas cratéras.
Duas noites na estrada até chegar ao parque, contando com a hospitalidade de fazendeiros pelo caminho, que nos deixavam colocar a barraca em algum gramadinho. No parque tivemos que passar somente pelo dia, pois acampar lá dentro é caro, e fora de locais habilitados, proibido.
Não queríamos ter uma noite intranquila, então apressamos a passagem pra sair dos limites do parque nesta noite. O que não impediu o André de pular na lagoa Arco-íris, com uma água congelante de dar medo, e ainda por cima encontrou umas moedas por lá, comprovando que a tal lagoa é um tipo de poço dos desejos. Quase conseguimos pagar a entrada do parque com as moedas que ele juntou!
Saímos da portada do parque e acampamos em meio a umas árvores, bem de frente para o vulcão. Um silêncio e uma paisagem inesquecível. Só que de noite eu sonhei que o vulcão entrava em erupção e chegava a sentir o chão tremer. Acordava com o coração acelerado, sem coragem de abrir a porta da barraca pra dar uma espiadinha. No final das contas, tive um noite intranquila de qualquer jeito… Intranquila, mas com uma paisagem linda, o que até me consola de certo modo.
Já tínhamos subido tudo que era para subir, e dali até Cunco era só uma deliciosa descida em estrada de terra que mais parecia um túnel verde. Um capricho dos moradores locais terem deixado árvores dos dois lados da estrada para fazer sombra.
Um cuidado que nós ciclistas agradecemos! Cada vez mais o Llaima ia ficando ao longe, dando lugar a avistarmos outros vulcões de formatos diversos no horizonte ao leste. Chegamos em Victória depois de uma noite ao lado da estrada e milagrosamente ao lado de um arroio de águas limpas e com belo gramado. Victória não era muito legal, André foi tomar a vacina outra vez, por conta da mordida do cachorro em Villa Santa Lucia.
A enfermeira era uma aluna, o hospital não encontrava a vacina nem a sala para aplicar a vacina. No final a garota acabou se furando com a agulha do André por acidente, e imploraram para ele deixar tirarem um pouco de sangue para exames, para tranquilizar e safar a garota de 6 meses de quarentena e sem poder trabalhar.
Depois de 2h da saga da vacina, ainda queriam que ele esperasse meia hora para saber o resultado do exame, se eu bem conheço André, ele teve ter feito uma cara de dar medo, e com razão devia estar com muita raiva, não, não, me expressei mal, espero que não esteja com raiva, até porque é pra isso que ele tava tomando a vacina, espero que tenha sido apenas uma cara feia de impaciência.
É, impaciência é melhor! Mandou que enviassem o resultado por e-mail, caso estivesse alterado, resultado que nunca chegou, obviamente!
Enfim, encontramos um canto pra acampar em plena ruta 5, em meio a uma floresta de eucaliptos, com direito a arroio de água limpa e tudo mais! Deu pra tomar um banho caprichado!
Dali, no outro dia chegamos a Saltos del Laja, onde pretendíamos esperar meus pais (Ana), já que há grande oferta de campings e tranquilidade de sobra. Não queríamos continuar subindo mais, pois quanto mais perto de Santiago, mais movimento na estrada e mais populosa as margens, o que nos deixava um pouco preocupados. Nos instalamos com desconto em um camping fechado por baixa temporada, e esperamos o grande dia do reencontro!