Chegamos em Cusco (ou Cuzco?) igual aqueles mountain bikers que fazem só trilhas lamacentas. Estava chovendo e o pequeno acostamento sempre sujo com lixo e terra, agora com a água transformava tudo em lama. Passamos pela placa tipicamente peruana da empresa de telefones cujo logo é um círculo vermelho e estampa todas os portais de “Bienvenida” das principais cidades por aqui. Da tal placa até o Centro Histórico foram 20km, não chegava nunca, e pra ajudar, o céu abriu bem quando chegamos na parte mais tumultuada, estávamos todos encapotados com abrigos de chuva e aquele sol chegava a fazer fumacinha evaporando nossas roupas e alforges. Aquela agonia de estar suando sufocado numa roupa impermeável combinado com o fato de não ter onde parar pra tirar a jaqueta naquele transito infernal foi dando nos nervos. Pelo caminho uma padaria atrás da outra vendendo os pães gigantes, e depois uma sequência sem fim de Chicharronerias, algo como restaurantes especializados em carne de porco, exibiam toicinhos inteiros em vitrines de vidro e as pessoas paravam ali pra comprar pedaços daquela pele de porco pururucada. Mais adiante encontramos finalmente o passeio central onde há uma ciclovia, e não diferente das ciclovias do Brasil, cheio de gente caminhando por ela despreocupadamente. Ao menos pudemos tirar os casacos sem correr o risco de uma vãn ficar buzinando na nossa orelha.
Mas o universo começou novamente a conspirar a nosso favor! No meio do passeio vimos um chafariz. Tivemos a bela idéia de dar uma lavada nas bicicletas ali mesmo, estava tudo completamente imprestável, e com aquele sol a lama já queria secar e depois seria pior pra limpar essa nhaca. Chegamos às imediações do centro histórico, tentando absorver aquele mapa caótico com ruas sem saída e paredes de pedras roubadas dos Incas. Logo outros ciclistas que caminhavam por ali nos abordaram informando finalmente onde ficava o Hostel Estrellita. Que alívio e alegria encontrar esse lugar, chegamos e fomos muito bem acolhidos por diversos ciclistas que já estavam na casa, todos muito simpáticos e conversadores, o clima entre o pessoal era ótimo! Além de tudo isso o pátio enorme e uma cozinha completa a nosso dispor. No primeiro dia tivemos que ficar no quarto coletivo com mais 5 pessoas, mas no outro dia um quarto menor estaria disponível pra gente, tudo pelo mesmo preço. Pela manhã os senhores que gerenciam o hostel oferecem o café da manhã com pães, café, margarina e geléia de frutas e ovos fritos ou “revueltos”. Negociamos nossa troca do ovo por um pão a mais pra cada um. O engraçado é que todos os dias os tiozinhos nos perguntavam de novo “Huevos fritos o revueltos?”, ríamos sempre da situação de explicar repetidamente que queríamos trocar por um pão a mais. Não que a memória deles seja curta, acho que eles imaginavam que a gente só não queria ovos naquele dia, e não que a gente realmente não come ovos nunca. A mesa de café da manhã espalhada pelo pátio era animada por conversas nos mais variados idiomas.
No dia seguinte iríamos a Machu Picchu, estávamos numa empolgação só e muito ansiosos!