Deixamos Tangará com o coração apertado e cheio de emoções depois de passar 10 dias na casa de meus pais. Não foi nada fácil a despedida e pra deixar tudo mais difícil fazia um dia de céu cinza, a paisagem estava descolorida sem a presença do sol. Em breve meus pais planejam nos encontrar novamente, mas eu diria que o mais difícil de uma viagem assim longa, como a que temos intenção de realizar, é a despedida das pessoas que amamos. Foi um dia que pedalamos silenciosos e reflexivos, não conversamos muito um com o outro, só seguimos em frente.
Chegamos bem cedo na casa de meu avô, nosso pouso para o dia. Ainda antes das 15h já havíamos percorrido os mais de 40km. O quintal cheio de alfaces, couves, beterrabas, tempeirinhos e seus pés de café, além de um canto de terra preparado para as batatinhas. Nos impressionou o capricho que meu avô tem com seu terreno, uma bela variedade de alimentos no quintal de uma casa na cidade.
Intermináveis subidas nos aguardavam nos próximos dias. Pegamos a BR-282 desde Joaçaba, e até o trevo de Irani não teríamos escapatória. Em Catanduvas estava acontecendo uma manifestação dos motoristas de carga, quase não nos deixam passar, alegavam que nós transportávamos carga também e deveríamos aderir à greve. A não ser que parássemos comer uma “carninha” do churrasco que faziam na beira da pista. Pensamos “Estamos encrencados!”, e rimos com eles. Dali pra frente pouco movimento na rodovia, só carros de passeio e caminhões leves trafegavam, pra nós um refresco para os ouvidos e para os pulmões.
Devido às subidas ininterruptas, não muito íngremes mas sempre contínuas, o joelho do André começou a reclamar, regulamos melhor a altura do banco e passamos a empurrar em todas as subidas para poupar o joelho. Paramos para acampar antes do planejado para o dia, mas não poderíamos ter tomado decisão melhor. Fomos parar no CTG de Vargem Bonita, e conhecemos o Adair, que cuida do local. Fomos muito bem acolhidos, dormimos no salão de baile, tivemos banho quente, ganhamos umas cuias de mate e até nos ofereceu um jantar campeiro, o qual tivemos que recusar.
Novamente na estrada, uma pancada de chuva nos pega desprevenidos. Após acalmada a aguaceira, seguimos até o próximo posto de gasolina. Lá puxamos nossa polenta preparada no dia anterior e tentamos comprar uma salada ou um pouco de feijão na lanchonete do posto, que servia um PF. Não quiseram nos cobrar a porção de feijão e o dono do local ainda nos ofereceu o almoço de graça. Agradecemos, e tivemos de recusar a terceira refeição de graça deste trecho da viagem. O pessoal tem sido muito generoso conosco por estas paragens. Proporcionalmente, mais curiosos também.
No posto, como em todo o trecho desde Tangará, muitos vinham conversar conosco. Suspeitamos que motivados pela reportagem exibida no jornal nacional dias atrás, onde mostraram um casal de cicloviajantes Inglês que encerrava sua viagem pela América do Sul no Rio de Janeiro. Teve até uma família que nos fez parar numa deliciosa descida só pra perguntar se nós eramos o casal que passou na TV.
O joelho do André continuava a incomodá-lo. Decidimos que a próxima parada faríamos uma pausa de um dia para descanso. Paramos novamente num CTG, já nas proximidades de Ponte Serrada. No dia seguinte, o que planejávamos ficar parados, choveu sem parar. Quando eu digo sem parar eu estou falando sério. Das 8h da manhã até as 9h da noite sem um intervalinho de trégua. O clima nos forçou a ficar dentro da barraca o dia todo, quando saímos para cozinhar ou usar o banheiro acompanhávamos a evolução da poça que se formava ao redor da barraca. Felizmente nossa casa aguentou com louvor. O descanso foi além do imaginado, descansamos até demais.

Chegamos ao parque de exposições de Xanxerê logo após o meio-dia, e já havíamos percorrido 55km graças ao relevo propício. Mesmo sendo cedo para parar, o céu ameaçava um temporal. Nos instalamos num pavilhão e a chuvarada começou. Pretendíamos partir bem cedo no dia seguinte para tentar chegar na casa da minha avó ainda neste dia, e tínhamos mais 50km até lá sem saber como seria o relevo. Pela manhã o tempo prega uma peça e nos força a dormir mais um pouquinho, bem cedo desaba um temporal com direito a relâmpagos e trovões.
Chegamos a Nova Itaberaba! O milagre das descidas sem fim nos fez chegar antes das 15h e o céu abriu um sorriso, deixando escapar o sol pela fresta das nuvens. Pegamos a Vó Adélia de surpresa. Quase não reconhecemos o local, após construída a casa nova, tudo mudou, menos a jabuticabeira.
Após alguns dias de descanso amanhã seguimos pela estrada novamente. Tivemos sorte de por aqui ainda estarem carregados os pés de laranja e bergamota. Além disso tem feito um calor de primavera, será que vai continuar assim por mais alguns dias? Espero que sim.
Oi Ana e André!!!
Muito legal ler e acompanhar um pouco do desenrolar da viagem de vocês! Fiquei de escrever para vocês, mas não consegui me organizar. Logo escrevo, mas sem pressa de responderem…
Ah! Sobre as dores no joelho do André, não sei se ajuda, mas já tive isso. Resolvi com alongamentos e corrigindo a posição do selim e do pé no pedal…
Passei mesmo para dar um “oi”, dizer que estou acompanhando vocês e que gosto de vocês… :))
Se cuidem!
Boa pedaladas sempre.
Fábio (FES)
Que vcs tenham uma boa viagem .
E que Deus proteja vcs de todo perigo. E abençoe vcs nesta viajem em nome de Jesus.
Apesar da distancia queremos dizer que amamos muito vcs e que vcs estão constantemente em nossas orações.
E continuem sempre mandado recados.
E fotos por sinal muito bonitas. A das estrelas é muito bonita.
Abraços de seus primos
Fabio, Ana Paula, Ana Julia e Ana Luiza
Olá Fábio, Ana Paula, Ana Julia e Ana Luiza!!!
Muito obrigado pelo carinho!!! Saiba que amamos muito vocês também!
Espero que em breve possamos nos encontrar novamente!
Abração
André e Ana
hola, chamigos!
quanta chuva, hein??
estou acompanhando os relatos!
abraços
Elton Xamã
Olá amigos, a dor do joelho pode ser também de pedalar de calçado de cano alto ( limita a movimentação do tornozelo e acaba sendo compensado o movimento no joelho) ou/e altura inadequada do selim ou/e utilizando marchas muito leve ( muito giro ) ou/e muito pessadas ( muita força ). Espero ter ajudado. Boas pedaladas. Luiz
Ana e André, acompanho admirada e emocionada esse caminho de vocês . Quanta coragem, quanta união !! Lindo. E o cabelo raspado então? Só você Ana…
Bom, o fato é que percebemos o quanto tem sido incrível essa viagem. Que o tempo lhes reservem lindos dias !! Muita luz e proteção pra vocês.
Saudades Ana…Beijos,
Fala Gelera,
obrigado dos comentários!!!
Então, depois de uns 200km depois das dores no joelho, posso dizer (que acho, hahaha) que estou curado, aumentamos um pouco a altura do banco e boa.
O que aconteceu no dia foi o seguinte, a soma de vários fatores, 1- O banco estava regulado um pouco mais baixo do que deveria, pois eu costumava pedalar com um tenis mais baixo do que essa bota 2- No dia a bota estava cheio de barro em baixo, o que deixou a sola ainda mais alta 3- O banco de couro costuma ceder um pouco com o uso, nisso tem que aumentar um pouco a altura do selim (e depois, quando necessário apertar um pouco mais o parafuso do banco que estica o couro)….
Obrigado mesmo pelas dicas, confesso que estávamos um pouco relaxados com os alongamentos, mas depois do toque do FES retomamos o costume….
Então, a bota que estou usando não atrapalha a mobilidade do calcanhar, pude testar e prestar atenção nesse ponto hoje com a sua dica Luiz… Também tomando mais cuidado com rotação em excesso e força em excesso… Valeu!
Abraço pessoal, vamo que vamo!