Mar Chiquita e as Serras de Córdoba

Desde San Francisco até Laguna Mar Chiquita, paramos pernoitar em La Paquita, um pequeno povoado que nos acolheu num local que nos pareceu os CTG’s do Brasil. Chegamos a Miramar no início da tarde e aproveitamos o tempo para visitar os pontos de observação de aves e os famosos flamingos rosados. Pedalamos uns 5km em estradas de terra até o local, mas só o que vimos de perto foi um cão do mato, pois os flamingos estavam tão longe que só soubemos que eram flamingos pelo zoom das lentes da câmera fotográfica. Era impossível se aproximar deles, pois a Laguna Mar Chiquita nesta parte fica com as margens alagadiças, e os pés vão afundando na lama como areia movediça.

Encontramos um camping desativado fora da temporada de verão para pernoitar e dormimos no maior sossego às margens da Laguna. Curtimos um pôr do sol ao lado do Hotel em Ruínas, o Grande Hotel Viena, onde há um museu. Dizem que aí se hospedou Hitler no período do final da guerra.

Em Miramar há muitos museus para visitar, mas todos são tarifados e com horários de funcionamento não muito estendidos, por isso não visitamos nenhum. Esperávamos assistir o nascer do sol na laguna, mas o amanhecer se cobriu de névoa e deixou o dia todo nublado.

Saindo de Miramar, chegando já na cidade de Balneária, encontramos um ciclista viajante que desarmava acampamento. Paramos para conversar um pouco, se chamava Aníbal e estava de retorno de uma viagem de 6 meses, passou pela Colômbia, Bolívia, Peru, Venezuela e Brasil, e agora na Argentina quase em casa. Seguimos em frente e quando paramos fazer um lanche, para nossa surpresa seu destino era o mesmo que o nosso, então seguimos pedalando juntos até as Serras de Córdoba.

Paramos em Villa Totoral e pedimos informações de camping municipal. Nos deram um mapa com roteiros de Córdoba e informaram que nas margens do riacho que passa ao redor da cidade é permitido acampar, porém não é permitido fazer fogo, a não ser nos locais apropriados para tal. Nos surpreendeu a beleza do lugar, um riacho de águas que vem da cordilheira dos Andes, limpíssima. Nos banhamos e lavamos algumas roupas, estava calor e a água geladinha foi uma benção! Aníbal nos falou que na Argentina as margens dos rios são públicas e é permitido acampar. Se houver cerca, é possível denunciar pois cercas em arroios e rios é proibido. Que ótima notícia!

De Villa Totoral pegamos uma estrada de chão que leva a Charbonier passando pelo Vale de Ongamira. Depois de tanto tempo pedalando nas planícies, começaram as montanhas e o peso da bicicleta se fez lembrar novamente. O cenário pitoresco nos distraía das dores musculares e pouco a pouco avançamos pela estrada arenosa. A vegetação semi-desértica tornavam as montanhas douradas. Quando começamos a descer, rochas coloradas nos deslumbraram. Por ali Aníbal disse haver um arroio, onde seria possível acamparmos. Porém devido a estiagem forte de tantos meses, o arroio estava completamente seco e foi preciso pedir água nas casas da redondeza.

No dia seguinte planejamos parar em Charbonier, então Aníbal seguiu sem nós, pois queria chegar em La Falda, cidade onde vive. Em Charbonier não encontramos local para acampar, então fomos seguindo devagarinho, passamos pelas pedras de El Paredon, tomamos um banho de riacho e seguimos até a terra dos Ovnis, Capilla del Monte, onde está o pico Uritorco, uma montanha muito visitada e considerada por alguns como sagrada e portal de entrada de Et’s para as cidades subterrâneas.

A cidade de Capilla del Monte é charmosa  e pitoresca, há muitos turistas e nos fez lembrar o centrinho da Lagoa da Conceição pelo estilo de pessoas que circulam por lá. Na cidade encontramos restaurantes vegetarianos e verdureiras com preços bons, até algumas só com produtos orgânicos. Capilla del Monte é uma cidade muito turística e alternativa, no entanto os preços dos campings e hostels não é nada alternativo. Rodamos a cidade toda e não encontramos preços acessíveis. O jeito foi ficar no camping municipal mesmo, o preço mais caro que pagamos por alojamento até agora, mas já estava caindo a tarde e nós muito cansados. Ao menos conhecemos o vale do Uritorco, passeamos pela cidadezinha e vimos o entardecer magnífico que deixou a montanha toda rosada. No camping, conhecemos um casal  muito simpático que iria subir o Uritorco, eles também viajam de bicicleta e nos deixaram seu contato caso passemos em sua cidade, próximo a Neuquén.

No dia seguinte forte vento norte nos trouxe até Tanti, cidade turística em que há muitas regiões de balneária e onde foi possível acampar sem custos, mas sem nenhuma estrutura, camping selvagem-urbano. Em Tanti descansamos durante o final da semana, nos preparando para o próximo trajeto que promete ser muito duro, a subida aos Los Gigantes, a passagem em Los Tuneles e os longos quilômetros pela planície de estrada arenosa que nos levará até Chepes.

Galera, mais fotos desta parte do trajeto estão em nossa Galeria de Fotos aqui do blog, ou em nossa página do Facebook.