Pela manhã ainda estávamos no desjejum, quando os ciclistas da barraquinha laranjada passam pela ponte. Não nos viram e nós apenas gritamos “Bike!”. De longe abanaram pra gente. Seguimos pedal pelas montanhas, e fazia um dia lindo. Numa parada de ônibus fizemos um lanchinho, e nisso o casal que vimos pela manhã passa novamente e junta-se a nós. Era Ellen e Marco, simpáticos e divertidos, foi um almoço alegre na companhia da sueca e do italiano. Seguimos pedalando pela parte da tarde juntos, de papo com outras pessoas que não eu e André, André e eu, a tarde passou rápido e ainda antes do fim da tarde chegamos a Villa Manihuales.
Neste povoadinho algo muito singular aconteceu. Procurávamos um camping e fomos até os Bombeiros nos localizarmos, pois a mocinha das Informações turísticas não foi muito clara nas direções que deveríamos pegar. Um bombeiro de plantão demora a aparecer, e nisso um senhor sorridente vem do outro lado da rua. Ele se aproxima de nós e diz “Venham à minha casa, tenho uma casa de ciclistas e hospedo ciclistas de todas as partes do mundo. São bem vindos, mas infelizmente não tenho camas.”
Ele parecia desapontado por não poder oferecer camas. Mas de camas é o que nós menos precisamos. Meio que pegos de surpresa, e sem conhecer o casal de amigos direito, falamos ao simpático senhor que iríamos conversar e decidir o que fazer, pois acabávamos de nos conhecer e havíamos combinado de ir ao camping. Ele foi muito gentil e disse “Minha casa é aquela ali do outro lado, a de porta amarela. Quando decidirem, é só bater à porta.”

Nos deixou e nós quatro nos olhamos boquiabertos como quem diz “Cuma?!”. Nossa cara era de quem pensa “De onde surge esse milagre nos chamando para ficar debaixo de um teto e com banho quente ainda por cima? E ele não cobra nada, nada! É incrível!” Parecia bom demais pra ser verdade, mas nenhum de nós estava com a mínima dúvida de que era pra lá mesmo que deveríamos ir. Ficamos uns instantes rindo que nem bobos com a novidade e lá fomos nós bater na porta amarela.
O Jorge nos recebeu com tanta alegria que nos deixou muito à vontade em sua casa. Na frente da casa, muitas bicicletas de crianças estavam como que numa vitrine em plena grama, nos fundos o banheiro, um fogão e dois outros lavabos, e uma sala com mesas e um belo espaço para espicharmos nossos isolantes e sacos de dormir. A família parecia ser grande, e a todo momento alguém entrava por ali falando alto e alegremente.
Depois de instalados, o Jorge veio conversar conosco, nos contou que o primeiro ciclista que ele hospedou havia sido um brasileiro, e que este ciclista é que deu a ideia de Jorge abrir um espaço permanente aos viajantes de bicicleta, tal como uma Casa de Ciclistas que aquele havia conhecido no Peru, e que desde então, tem recebido centenas de ciclistas a cada verão. Nos mostrou o livro de assinaturas e tivemos uma enorme surpresa.
O ciclista não havia assinado o livro de registros, porque afinal, quando esteve ali nem sequer havia um livro de visitas. Era apenas um cartão de visitas colado na primeira página. Seu nome reconhecemos na hora. Era o Leandro, o cara que nos chamou pra sua casa lá em Itapiranga, no comecinho da nossa viagem, e que nos passou tantas dicas desta vida na estrada. Quanta coincidência! Ficamos realmente felizes de ver.
Depois, folheando o livro encontramos mais conhecidos naquelas páginas. O Juan, lá da Venezuela, que hospedamos uns dias lá no nosso apartamento em Floripa. Os meninos do Eco Austral, um grupo de estudantes da UFSC que viajou por estas bandas de bici. E ainda o pessoal do documentário Going South, documentário este que assistimos lá na casa do Leandro. E a Frederica e o Jerome, lá da França, que também hospedamos em nossa casa e que ainda nos comunicamos de vez em quando por e-mail.

Bom, passado o susto bom de tantas belas surpresas, tratamos de cozinhar o jantar com nossos novos amigos, e já vimos que a noite seria pouca pra tantas coisas que queríamos fazer e tantos assuntos pra conversar. O resultado é que fomos dormir tarde e no dia seguinte foi tão difícil acordar cedo. Mas as 10h lá estávamos nós na estrada de novo.
Ao sair do perímetro urbano, vimos lá na frente uma bicicleta cheia de bandeirinhas que saía de alguma estrada secundária. Nos aproximamos e começamos a conversar. Era outro casal, Jennifer e Rémi, da frança e há 5 meses viajando desde Quito, indo para Ushuaia também. Juntaram-se a nós e seguimos pedalando e papeando muito, em meio ao vale todo colorido por florezinhas lilázes. A cena estava mesmo muito linda, 6 bicicletas com seus multicoloridos ciclistas em meio àquela pitoresca verde-com-liláz paisagem, cheia de montanhas, riozinhos cristalinos e cachoeiras rumo à cidade de Coihaique.
Todo o pedal do dia parecia um passeio de primavera. Até que depois do cruzamento com a estrada que vem de Porto Aysen, as coisas ficaram um pouco menos agradáveis, pois o movimento de caminhões era relativamente maior. Mas, foi só tomar um pouco de cuidado se seguir sem pressa. No fim do dia tivemos uma grande serra pra subir, mas cada um no seu ritmo foi avançando, e a cada topo esperávamos uns aos outros para reagrupar os casais novamente. Chegamos ao centro da cidade no final da tarde. Fizemos uma foto juntos e nos despedimos com o combinado para nos encontrarmos no dia seguinte para um piquenique.
Foi por causa do Leandro que começamos a pedalar…
Estamos planejando uma viagem para a Caretera Austral e vamos sempre vendo o blog de vocês.
Tudo de bom e bons pedais
Abraços,
Sônia
hola,
continuo acompanhando a bela aventura de vocês!
e por que não um dia fazer algo parecido??
incentivo não está faltando!
abraços
Elton Xamã
MS – O Estado do Pantanal.
Valeu Elton, sempre nos dando incentivo a continuar relatando a viagem também. Grande abraço e boas pedaladas