De Salta, a 1200 e alguns metros sobre o nível do mar, teríamos que subir a 4000 metros em Abra Blanca antes de chegarmos a Santo Antonio de Los Cobres, que está a 3 mil e 700 metros. Estávamos calmos em relação ao tempo que levaria para chegarmos até lá. Primeiro porque passamos 3 semanas parados de pedal, e segundo que nunca estivemos em altitude, e precisaríamos nos aclimatar aos poucos, para não sofrer de dores de cabeça e outros sintomas da Puna (mal de altitude). Pegamos este caminho porque tínhamos idéia de fazer o Paso de Sico para chegar ao Chile, próximo a San Pedro de Atacama, passando pelas Lagunas altiplânicas, Miscanti e Miñiques.
Dormimos 3 noites na estrada antes de chegarmos a S.A. los Cobres. Na primeira noite encontramos um abrigo do vento ao ladinho, colado à estrada, haviam algumas árvores e uma fontezinha de água meio suja, mas estávamos já cansados do dia.
De noite o vento virou e toda poeira da estrada empestiou a barraca recém lavada em Salta. Os zíperes começaram a reclamar já neste dia. O tempo seco e a poeira colaboram para o desgaste prematuro dos cursores, e tá feito o desastre. Pela manhã, algumas peças de roupa que havíamos lavado estavam completamente secas e esturricadas, isso que ficaram estendidas dentro da barraca. Na segunda noite chegamos ao charmoso povoado de Alfarcito, depois de lutar com o vento contra e o começo de Puna. O final do dia foi terrível, fortes dores de cabeça e dele mascar coca. Foi a noite que nos demos conta que poderíamos estar desidratados, e a dor de cabeça ter menos a ver com estarmos a mais de 2 mil metros de altitude, e sim com o clima excessivamente seco.
Engolimos água goela abaixo, forçando mesmo pra tomar bastante, e antes de dormir já estávamos melhor. Como a noite anterior já havia sido demasiado seca, penduramos nossas toalhas de banho com a ponta mergulhada numa caneca cheia de água, assim o ar dentro do quarto ficaria um pouco mais úmido, minimizando o mal estar de narizes secos e respiração ofegante. A terceira noite chegamos a uma casa abandonada enorme, pudemos escolher com luxo o cômodo que queríamos, novamente protegidos do vento que estava um pouco descontrolado, e tendo a companhia de corujas e assustados passarinhos, surpresos com nossa presença.
A manhã antes de chegar à cidade, assim como os dias anteriores, foram somente de subidas. três dias de subida constante, mas ao menos eram suaves, e esta com o agravante do forte vento contra. Subimos vagarosamente até Abra Blanca, nosso primeiro recorde de altitude, 4 mil metros sobre o nível do mar. Já não sentíamos os efeitos da altitude, tomávamos água mais do que o nosso normal, não porque sentíamos sede, mas porque percebemos que ela preveniria um pouco da puna. Depois do passo, uma suave deliciosa descida de 20km pelo asfalto, até que ele acabou, dando lugar a uma areia solta num trecho plano. O vento amenizou, e no meio da tarde chegamos a Santo Antonio de los Cobres, não sem antes termos mais algumas subidas no areião, empurrando, obviamente!
Lá chegando buscamos o camping. Nada bom. Fica atrás da Igreja e na vista de várias ruas e ao lado de um rio. Passamos em frente a um prédio de artesãos e turismo, e uma garota se aproxima, dá meia volta, chama seu companheiro.
Perguntam de onde somos, e nós a eles, mas o sotaque manézinho denuncia os dois. “Também estão de bicicleta?!” Quanta coincidência. Haviam chego no dia anterior, iam mais ou menos na mesma direção que nós. Nos convidam pra ficar acampados onde estavam, atrás do prédio de turismo, ou será que fomos nós que nos convidamos?! Estávamos sobre a brita, mas fora das vistas da rua e protegidos do vento. Na tarde seguinte, chegam mais dois ciclistas, um casal de argentinos. Quando assunto com toda essa gente a pedal! Mais uma noite fria nas britas e seguiríamos todos juntos ao Paso de Sico no dia seguinte.
Puts, gurizada. Muito lindo o relato.
Acompanho o blog há um tempão, os relatos e dicas de vocês têm ajudado no planejamento da trip que pretendo fazer muitíssssssimo em breve.
Eu vi pelas fotos (posso estar enganado) que vocês não pedalam clipados. Que pedais vocês usam?
Grande abraço! 😉
Olá Atila, desejamos pra ti uma ótima viagem. Sobre os pedais, o da bicicleta do André é um bom pedal, custou algo em torno de 50 reais na época. Já o da bicicleta da Ana era um pedal comprado há uns 6 anos e custou 5 reais. Durou até La Paz, ou seja, durou muito, mas por sorte, estava com um pouco de folga há algum tempo e trocamos por um de valor equivalente que só durou até Cusco, a folga persistiu. Então agora conseguimos um pedal de graça, largado em um hostel aqui em Cusco e vamos trocá-lo novamente. Abraços e bom planejamento pra sua trip!
Alerta alerta! O Léo é da Serrinha!!! haha
Irado um encontro assim em! Coletividade!!!
Oi Cid. O encontro foi muito extraordinário mesmo! Hahahaha e o mais engraçado é que já havíamos nos encontrado numa bicicletada em Floripa, pouco antes de sairmos de viagem.