Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

O trecho mais difícil de nossa viagem até aí, atravessar os Gigantes de Córdoba, cruzar a planície seca e quente de La Rioja e chegar ao território da província de San Juan.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Los Gigantes, umas das maravilhas de Córdoba e a passagem por Los Tuneles prometia ótimos visuais. E cumpriu. Mas para isso ser possível havia um preço a se pagar, atravessar a planície seca de La Rioja, mais de 100km sem nada.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Descansamos uns dias em Tanti antes de subir os 32km que levavam ao camping de Los Gigantes, o La Rotonda. Esperamos a segunda-feira chegar, pois lemos nos informes turísticos de Tanti que só cobram pra entrar quando é temporada e finais de semana.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Este trajeto nos assustava de início por ser todo de rípio e somente de subidas, mas a estrada estava bem compactada, e somente os primeiros 17km foram de subidas mais fortes, o restante foram subidas leves.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Saímos ainda escuro pela manhã e pegamos um dia nublado e friozinho, o que agilizou a subida, pois não conseguíamos ver muito devido à névoa, e o vento frio não nos deixava ficar muito tempo descansando, era preciso manter o corpo quente. Deste modo chegamos ao camping ao meio dia. O vento foi se transformando numa chuvinha, e lá em cima estava forte. Procuramos um abrigo no meio das pedras para colocar a barraca e nos enfiamos lá no quentinho. No camping não havia ninguém. Choveu a noite toda e o dia seguinte inteiro. Descanso forçado. Na noite seguinte nevou, mas como pensávamos ser o barulho da chuva com o vento nem nos importamos de ir lá fora olhar. Pela manhã, as montanhas estavam com branquinhos de neve, e a barraca também, poças de água congelada nas pedras, um friozinho e um céu absurdamente azul.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Seguimos o que pensamos ser descida até Taninga e Salsacate, mas ainda muitas subidas nos aguardavam, desta vez mais íngrimes que as anteriores, vales e mais vales. Até que finalmente chegaram os 14km de descida ininterrupta até Taninga. Lá de cima vimos os Vulcões e uma estranha faixa escura em todo o horizonte, será que são os Andes?

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Taninga não era mais que um pequeno povoado, um posto de gasolina e uma despensa, então fomos até Salsacate, há 3 km dali, onde disseram haver um camping e mais mercadinhos. Conseguimos um preço bem amigo do casal que mantém o camping. Ficamos mais um dia por lá e batemos perna no “centro” atrás de comida e bons preços. No outro dia seguimos rumo a Los Tuneles.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Saímos bem cedinho e a estrada de rípio se apresentou um pouco mais precária do que o trecho dos dias anteriores. Mas esvaziamos um pouco os pneus e fomos seguindo, observando as árvores de palmas e os montes da Serra de Pocho. Até aí encontramos algumas casinhas e um ou outro restaurante. Paramos em um pedir informações se havia onde pegar água mais próximo aos Tuneles, se havia algum morador. Nos informou uma senhora de um restaurante que sim, que no 5º túnel poderíamos pegar água, que havia um restaurante bem turístico por lá. Então continuamos a subida tranquilos e com apenas uma caramanhola de água para cada um.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

A vista dos Tuneles é bem impressionante. Lá de cima a planície de La Rioja parece um mar. A faixa escura no horizonte se pronunciava ainda mais, mas os Andes ainda estão muito longe pra já podermos avistar, ou será que não? Fomos aproveitando a descida e fazendo muitas fotos e filmagens. Lá pelas tantas passa um ônibus cheio de turistas. Param num mirador e todos descem pra fotografar. Foi quando nós estávamos descendo ao 5º túnel onde pensávamos encontrar água. E aí “pá-pá-pá” a turistada parou de fotografar a planície e começou a mirar pra nós. Senti muito constrangimento, um bando de gente apontando câmeras pra nós sem nenhuma cerimônia, como se fôssemos uma espécie bizarra. Afinal, quem são os bizarros?!

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Chegamos ao 5º túnel e tinha um senhorzinho vendendo doce de leite e souvenirs miniaturas. Perguntamos a ele sobre o tal restaurante que haviam nos falado, onde poderíamos pegar água. Ele nos disse que ali não há nada, só mais lá pra cima, voltando, no primeiro túnel, mas que o restaurante está fechado há muito tempo e que não tem ninguém lá. Ah, que ótimo! E o pior é que a essas alturas já não dava mais tempo de assaltar os copinhos de água do ônibus dos turistas. Ó céus, que fazer?! Mas aí o tiozinho disse que lá em baixo, na planície, havia duas casinhas brancas “Lá ó!” onde poderíamos pegar água, que hoje mesmo ele estivera lá conversando com o dono, e que há até um tipo de alojamento.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Seria nossa única alternativa. Depois do 4º túnel a turistada nem chega, porque só há local de manobra entre o 4º e o 5º túnel. Dali pra frente a estrada piora muito, as pedras de rípio ficam maiores e a descida mais íngrime. Era preciso parar a cada pouco descansar as munhecas e esfriar os aros.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Finalmente chegamos na planície, a estrada não tinha fim e isso era um pouco assustador. Encontramos a casa indicada e realmente havia água e alojamento. O dono nos permitiu ficar por lá sem problemas, mas ainda era cedo e decidimos sair dali o quanto antes, pois quanto antes chegaríamos ao asfalto novamente. Teríamos mais 70km de rípio (areia) até o asfalto, e depois mais 30km até a próxima cidade. Informaram que não haveria nada vezes nada no caminho. Por isso carregamos toda nossa capacidade de água para este trecho, que incluía todas nossas garrafas mais as duas bolsas de água que adaptamos e que cabem 6L cada uma, equipamento indispensável pra situações como essa.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

No início do plano a estrada não estava tão ruim, mas foi piorando, e o pior é que se tivéssemos algum problema, pouquíssimos veículos passavam por ali, na verdade, o dia inteiro e não passou ninguém. Por sorte, nada de vento, só as moscas pra azucrinar. O local era completamente seco mesmo. Somente algumas casas muito singelas e sem luz elétrica muito longe umas das outras e que não aparentava morar ninguém. Encontramos por milagre um local sem árvores de espinho na beira da estrada para colocar a barraca. O entardecer foi lindo e a noite de um silêncio absoluto, nem grilos, nem latidos, nem galos, nada, silêncio total. Noite ótimamente bem dormida.  Que tranquilidade!

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Acordamos cedo e dispostos e com um nascer do sol motivador por detrás das montanhas. Logo nos primeiros quilômetros pneu furado. Argh! Marditos espinhos. Uma hora a mais nesse deserto, e a areia entrava por todos os lugares. Ao menos haviam alguns passarinhos pra nos distrair, vermelhos sangue ou completamente brancos. Mas eles não foram suficientemente atrativos pra nos tirar do marasmo da paisagem repetitiva, ligamos um “tunts-tunts” (caixinha de som nesses momentos salva o tédio) e seguimos. Que dia mais comprido!

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Passamos por algumas fazendas, com casas muito precárias, muitas cabras encontramos no trecho final. Assim que o dia todo a 12km/h, as 17h chegamos ao asfalto e “Oh shit!”, mais um pneu furado, nossas chances de chegar a Chepes ainda hoje terminaram aí. Trocamos o pneu e seguimos mais meia hora. Encontramos um local na beira da estrada novamente, mas desta vez a noite foi mais barulhenta, no entanto dormimos bem devido ao cansaço e ninguém veio nos incomodar  Ainda nos restava um pouco de água.

Travessia por Los Gigantes à Planície Seca de La Rioja

Chegamos a Chepes na manhã seguinte e por ser domingo ainda conseguimos comprar comida nas últimas horas da manhã porque o vento nos ajudou. Este início de dia tivemos dois presentes, o vento e depois de Chepes um trecho de acostamento novo. Mas alegria de pobre é inversamente proporcional à esperança do mesmo. E aí o acostamento acabou e o vento foi virando, virando, virando, até que ficou contra, e as planícies foram ficando morrinhos, subidinhas, subidonas.

Nos despedimos da província de La Rioja ao passar por uma salina e entramos em território de San Juan, até agora o trecho que nos trouxe mais desafios.

Mais fotos da viagem, confiram na nossa Galeria de Fotos aqui do blog, ou comentem nas fotos lá do àlbum do Facebook.

7 comentários

  1. o que fico mais admirado e pensantivo..é em vcs deixar o confroto de um lar..e fazer do mundo sua moradia…nam canso de ver, rever as fotos e seus postes, mim diga como posso ajudar á vcs nesta viagem?…eu comprei um alforge de guidõn no site…e estpu as poucos entrando no cicloturismo….

  2. Olá menin@s! Vocês são uns/mas chat@s! Ficam aí nos mostrando que a vida é muito mais maravilhosa que bater cartão! rsrs
    To aqui na torcida para que mais padokas com wifi apareçam no caminho de vocês pra gente ir por aqui, pegando uma carona!
    Super abraço e força nas canelas!!!

  3. Caramba, 100km sem nada, 17km de subida pesada, 14km de descida…eu fico imaginando o que é isso rsrs
    fico imaginando essas regiões que vocês passam…parece até coisa de filme…

  4. Baaaaita!!! Olha só, estou pretendendo ir, mas no sentido contrário, de Chepes a Villa Carlos Paz, subindo pelos “Tuneles”. É tranquilo? Só seguir a Ruta28 saindo de Chepes e chego lá? Vou estar de carro, se precisar acampar/quiser acampar no meio do nada, é indicado ou perigoso? Só perguntas, hehehe…. Aquele abraço e parabéns pela trip!!!

    • Olá Andreas, então, esta estrada de Chepes a Salsacate estava boa em partes, os ônibus mesmo só chegam até o 4 túnel (para você no sentido inverso seria o segundo) fazem meia volta e retornam. A partir do final do asfalto pra você vindo de Chepes, a estrada estava em péssimas condições em 2012, simplesmente porque não há movimento e a manutenção da estrada na subida é difícil, então há muitas pedras grandes e soltas, a inclinação é grande e a subida é longa com poucas áreas (eu nem me lembro de nenhuma) de recuo, Mas depois do 2° tunel pra você a estrada vai ser boa até encontrar com o asfalto perto de Salsacate outra vez. Quando os pais da Ana vieram encontrar conosco no Chile eles passaram por esta estrada de carro, no sentido inverso ao seu, com veículo 4×4 e foi segundo eles um sofrimento e uma adrenalina grande. Pra nós de bike já foi bem difícil lidar com aquelas estradinhas estreitas. Não encontramos nenhum veículo nessa descida, só lá em baixo nos planos alguns moradores das poucas fazendas. Na área plana se prepara pra muita areia solta e bastante vegetação com espinhos. Se for acampar por ali, é desolado mas não considero perigoso, ainda mais porque a noite não passou nenhum carro na estrada e não temos nada muito cu$to$o conosco. Numa das fazendas onde pegamos água nos convidaram para dormir nos quartos de funcionários que estavam vazios, não aceitamos porque queríamos avançar mais aquele dia, mas sempre é uma boa saber que há gente solidária na região. Eu recomendaria que você se informasse nos postos de gasolina em Chepes pra saber como anda a estrada agora em 2014, afinal já fazem dois anos que passamos por ali.
      Grande abraço e ótima trip!!!!

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